A Valquíria Zero - Capítulo I: Infinidade

Após um longo período sem postar nada, trago finalmente o capítulo 1 de A Valquíria Zero.
Preparem-se para ver muitas referências à mitologia Nórdica! 
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É isso pessoal, boa leitura!

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Capítulo I: Infinidade
– Que lugar é esse, mulher?! – O bárbaro exclamava, raivoso, mas assustado por dentro.

A mulher de cabelos loiros sorriu e disse:

– Você está em Valhalla, a casa dos guerreiros mais poderosos que por um “infortúnio” morreram em batalha.

– Vadia! Infortúnio coisa nenhuma! Você me matou por vontade própria! E agora eu vou fazer o mesmo!

Furioso, o bárbaro salta em direção ao pescoço da mulher. Entretanto, o que ele menos esperava aconteceu. Com extrema habilidade e precisão, a mulher dos cabelos dourados agarrou o pescoço do enorme e pesado guerreiro, que ainda pairava no ar.

– Ugh... C-como...? – se perguntava, enquanto implorava por ar.

– Você sabia que se eu aplicar um pouquinho mais de força, seu pescocinho quebra? Interessante, não é? Que tal experimentarmos?

Suor escorria do rosto do bárbaro. Seus olhos estavam arregalados, cheios de medo. Suas mãos tentavam fazer a mulher soltar o seu pescoço, mas por mais que ele lutasse, ela nem ao menos mudava de expressão. De repente, o bárbaro pôde ver uma outra mulher se aproximando por trás da loira.

Uma mulher de cabelos vermelhos e curtos, vestindo os mesmos trajes que a loira assassina, porém seus olhos eram azuis e lembravam o mar que o bárbaro costumava a navegar.

– Me... ajude... – suplicou à outra mulher recém-chegada. Ela, por incrível que possa parecer, o ajudou.

A loira pôde sentir algo tocar seu ombro: era a ruiva, com um olhar de negação. Este mesmo olhar foi o suficiente para que ela largasse o bárbaro.

– O que foi, Eir? Você sabe que não gosto quando me olha desse jeito.

A ruiva, chamada Eir, avança em direção ao guerreiro caído, e com apenas o tocar dos dedos, o faz desaparecer.

– E você sabe que não gosto quando alguém pede socorro[1]. Além disso, Zero, por quê maltratá-lo daquele jeito, sendo que foi você que o trouxe para cá? – perguntou Eir enquanto levantava-se e coçava a bochecha.

Zero manteve-se em silêncio. Ela sabia que estava fazendo aquilo por motivo algum, mas mesmo assim continuou a ver um de seus escolhidos sofrer. Ele estava sofrendo igual a mim ela pensou, apesar de que ninguém havia sofrido mais do que ela.

– Ele veio para cima de mim, tive que reagir. – Explicou Zero. Obviamente ela falava a verdade, o bárbaro simplesmente a atacou. Eir encarou Zero por alguns segundos–– o suficiente para analisá-la.

– Ceeerto........ – Eir bocejou – Olha, se você não fosse uma espécie de assassina, eu até acreditaria, mas... – pôs o braço no ombro de Zero – sabe como é, né?

Zero tinha uma reputação horrível quanto ao tratamento dos seus escolhidos. Desde seu início de “carreira” em Valhalla, tudo que ela fez foi quase matar quem era escolhido por ela; Por isso todas as outras Valquírias tentavam não se relacionar com ela para evitar problemas com Odin.

Zero retirou o braço de Eir de cima dos seus ombros e começou a falar:

– Ah que beleza, vai começar com essa história novamente... – suspirou – Sério, eu apenas ajo como acho que guerreiras como nós deveríamos agir, sendo fortes.

Eir, por sua vez, respondeu desinteressada, como se ela já estivesse dito aquilo milhões de vezes.

– Nós não somos guerreiras, Zero. Quantas vezes vou ter que te dizer isso? Quantas vezes o próprio Pai Odin terá que lhe dizer isso?

Infinitas vezes, até que eu lhe prove o contrário. Foi isso que Zero pensou, porém contentou-se em apenas seguir em direção à saída. Eir continuou.

– Ei-––– Vosso Pai quer falar com você, novamente. Nossa, por que será que isso não me surpreende mais?

Com um olhar confiante, Zero dirigiu-se para fora da sala, sem nem ao menos despedir-se de sua companheira. Do lado de fora, paredes enormes erguiam-se em volta dela, como muralhas indestrutíveis.

Valhalla, uma cidade onde apenas os mais bravos guerreiros residem, junto das Valquírias. Durante o dia, todos os guerreiros devem treinar, para ficarem fortes o suficiente para a batalha final: Ragnarök. À noite, todos festejam e descansam para o dia a seguir.

Entretanto, apesar de todo o respeito que Zero mantinha em relação a seu Pai, ela não conseguia entender o fato de que as Valquírias fossem apenas uma espécie de ferramentas de escolhas, e nada mais. Para ela, isso não era correto, ela queria lutar assim como os guerreiros fazem na Terra.

Seus passos ecoavam pelos corredores quietos do palácio principal de Valhalla. Lances e mais lances de escadas puseram-se em seu caminho, mas nada disso a fazia resfolegar. Após chegar no andar mais alto, guardas armados cruzaram suas lanças, impedindo-a de passar.

– Qual seu motivo para estar aqui? – perguntou o guarda barbudo com um capacete simples.

– Ah, qual é! Me dê um tempo. Para o quê vocês acham que eu vim aqui? Matar Odin? Eu não acredito que ele têm vocês dois como guardas.

O segundo guarda a olhou fixamente, porém manteve-se calado enquanto erguia a lança.

Assim que a lança foi levantada, o guarda barbudo iniciou suas reclamações. – Ei! O que diabos você está fazendo?! Ponha a lança no lugar até ela dizer para o que ela veio.

– M-mas senhor, quem está diante de nós é a Valquíria Zero!

Como se tivesse ouvido algo aterrorizante, o guarda barbudo retirou sua lança do caminho com uma velocidade impressionante. Era possível perceber que ele suava como um porco, aparentemente com medo.

– P-Por que não falou isso antes! Me desculpe, senhora, – ajoelhou-se – é que nunca tive a oportunidade de vê-la de perto.

Com um olhar perfurante, Zero exclamou:

– Espero que lembre muito bem do meu rosto, pois a próxima vez que o ver e não o reconhecer, – começou a andar – será sua última.

Odin a esperava sentado, imponente em seu trono dourado. O pai de todos vestia uma armadura dourada e brilhante, um manto vermelho e um capacete com chifres. Seus olhos acompanhavam o movimento da Valquíria convocada, a qual andava a passos curtos e calmos.

Zero ajoelhou-se perante à Odin e esperou que o mesmo iniciasse a conversação, como sempre fez, entretanto Odin permaneceu calado, a perfurando com seus olhos escarlates. Após alguns momentos de silêncio, Zero pronuncia-se.

– Creio que o senhor tenha algo a me dizer, já que me convocou para seu sagrado salão, pai. – disse ela. Não era sempre que uma Valquíria era convocada para o salão sagrado de Odin. Quando menor, Zero pôde contemplar cada pedaço do lugar como se fosse seu quarto, já que Odin a tratava como uma filha direta. – Espero que eu não esteja equivocada.

Odin descansou os braços no seu trono e então começou a falar:

– Zero... – suspirou – você ainda me odeia? Quer ser como as outras Valquírias?

– Pai, após 250 anos vividos, posso lhe dizer com a total certeza que tudo que eu quero ser é diferente das outras. Eu sou única, como o senhor mesmo me disse há tempos.

A expressão de Odin mudou de desabafo para surpresa em instantes. Logo em seguida, respondeu:

– Bom, muito bom, finalmente posso perceber que você amadureceu, Zero. Era exatamente isso que eu precisava garantir antes de decidir...

Ainda de joelhos, Zero ergueu a cabeça e olhou nos olhos de Odin.

– Decidir o quê, se me permite a pergunta?

– Se você deve ou não participar ativamente na batalha final.
Tentando manter sua frustração para si, Zero manteve-se em silêncio.

– A batalha final está muito próxima. Os Jotuns[2] já estão se preparando. – suspirou – E como você já sabe, Loki já está há tempos conspirando contra mim. Está cada vez mais difícil parear com o poder dos Jotuns, principalmente quando Hel está trabalhando junto deles para trazer Ymir e Hrungnir de volta à vida.

Ymir e Hrungnir?! – Pensou Zero. Hrungnir era o mais poderoso Jotun, porém havia sido derrotado por Thor há alguns milhões de anos. Zero testemunhou a morte de Hrungnir; nada era capaz de fazê-la esquecer da cena em que Thor estraçalhou o seu coração de pedra com o martelo, Mjölnir. Entretanto, se Hrungnir era poderoso o suficiente a ponto de enfrentar o Deus do Trovão no seu ápice, Ymir era capaz de acabar com Odin, sem nem ao menos suar.

Milhões de anos atrás, Odin e seus dois irmãos, Vili, e Ve, cresceram irritados com o fato de existirem mais Jotuns do que Aesir[3]. Ymir não parava de conceber filhos, e foi graças à isso que Odin e seus irmãos resolveram matá-lo. Ymir foi atacado durante seu sono, dando uma pequena vantagem para os irmãos. Após vários dias de luta, Ymir caiu. E utilizando-se do corpo de Ymir, os irmãos criaram o mundo, que mais tarde seria chamado de Terra.

Só de pensar em todas as coisas que poderiam acontecer se ambos fossem revividos–– era algo assustador demais até para se pensar. Zero ergueu-se e começou a discutir o assunto, preocupação em sua fala.

– Lorde Odin! O senhor não pode mais tolerar tais atos insolentes vindos de Loki, não após isso! Além disso, eu sabia que Hel traria problema, e se ela irá ajudar Loki, obviamente a Serpente de Midgard também será usada, e temo que até mesmo Fenrir se juntará a seu pai.
Odin permaneceu escutando cada palavra que Zero pronunciava, com calma, sem fazer nenhum movimento. Vendo a reação de Odin – ou a falta dela – Zero resmunga:

– O Senhor não irá fazer nada?! É sério mesmo?

– Zero, você não me apresentou nada do que eu já não soubesse. Eu já pensei em tudo o que irei fazer, e quero que você execute tudo o que eu disser.  – levantou o braço e ajeitou a armadura – Espero que utilize dessa chance para mostrar o quanto você é capaz.

– Não irei desapontá-lo, Pai. – disse Zero enquanto se ajoelhava mais uma vez.

Odin levantou-se do trono, e levantou a mão para o alto. Um enorme relâmpago caiu direto em sua mão, e após o choque, uma lança dourada cravejada de rubis em seu cabo materializou-se. Era Gungnir, a lança mágica de Odin que nunca errava o alvo, não importasse o quão distante, ou o quão rápido o alvo fosse. As runas mágicas brilhavam enquanto Zero a observava atentamente.

– Deste dia em diante, eu o Pai de Todos, lhe concedo, a Valquíria Zero, liberdade de ações, podendo fazer o que quiser, sendo correto ou não. – Odin apontou Gungnir para Zero, e um raio foi disparado em direção ao seu peito.  

A marca que antes ficava em seu peito, se desfez. Zero agora era livre, não precisava mais matar mortais em guerra para trazê-los à Valhalla. Não precisava mais aguentar as outras Valquírias pegando no seu pé. E mais do que isso: ela podia enfim, ajudar eficientemente no Ragnarök.

Com um olhar calmo e uma voz gentil, Odin fez uma pergunta a Zero.

– Uma última pergunta antes de você sair. Por que você acha que eu escolhi o nome Zero para você?

Uma tristeza tomou conta de seu coração. Naquele momento, Zero lembrou de todos os momentos ruins de sua infância em Valhalla. Todas as outras Valquírias, jovens e velhas, diziam que ela nunca seria uma Valquíria, pois ela não conseguia utilizar os poderes mágicos mais básicos.

Como você vai ajudar? Vai acabar se matando no campo de batalha...

Nem ao menos o feitiço de imobilização. Tão inútil.

Isso era o que a grande maioria lhe dizia, até que em um certo momento, um homem, ou melhor, Odin, a encontrou em um canto, em silêncio.

P-Por que...? Por que você me fez assim? O que eu fiz para você, Sr. Odin?

Odin a olhou fixamente por alguns instantes e então colocou as mãos no ombro de Zero.

Criança, você sabe o significado do seu nome?

Uma expressão confusa foi a que tomou conta do rosto de Zero. Lágrimas escorriam enquanto ela tentava encontrar uma resposta.

Acho que é porque eu não sei fazer nada, tenho zero capacidade. Era para eu me tornar uma Valquíria, mas a única coisa que me tornei foi uma coisa qualquer.

– Não, seu nome é Zero, pois igualmente ao número, você é uma incógnita; você pode não ter potencial nenhum, mas lembre-se que você pode ser a infinidade.

– Eu não entendo...

– Basta saber que sempre há infinitas maneiras de fazer qualquer coisa. E que você é essas infinitas maneiras.

Assim que Odin disse isso, um guarda apareceu pedindo sua presença imediata no conselho dos Aesir. Zero, por sua vez, permaneceu ali, vendo o homem de armadura dourada se distanciar até desaparecer por completo.

Eu sou a INFINIDADE.

Sim, Pai, eu sei, e irei lhe provar que existem infinitas maneiras de se acabar com o seus problemas.


[1] Eir significa Clemência, Socorro, ou ajuda em alemão, por isso a necessidade de ajudar os outros.
[2] Jotun: Segundo a mitologia nórdica, os Jotuns eram os Gigantes, os primeiros seres do universo.
[3] Aesir: São os oponentes dos Jotuns na batalha de Ragnarök, ou seja, os Deuses.


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