Sypher: A Conquista - Capítulo 5 - Família Acima de Tudo?


E no último dia do ano, alguém aparece! Me sinto até emocionado em ter colocado dois capítulos seguidos no site haha!

Desejo a todos um feliz ano novo, e que venha muita coisa boa ano que vem! Boa leitura, pessoal.

Este é um capítulo do Volume 2 de Sypher. Para os capítulos anteriores, acesse a página do projeto!





Capítulo 5 – Família Acima de Tudo?

Parte 1:

O sol ainda brilhava com força sobre a cidade, o calor era de matar.

“Pelo menos minha visão voltou, ser cego é horrível.” Me queixei.

“Grande parte da minha alma está reconstituída, então nada mais justo do que lhe devolver a visão.” 
A voz de Samyaza ecoava na minha cabeça, calmamente.


“Afinal, pra que diabos você tirou minha visão?” Me senti obrigado a perguntar.

“Eu precisava de algo para usar como fonte de energia. Então peguei a tua visão para alimentar minha alma.” Samyaza explicava sem nem um pingo de entusiasmo.

“Não faz muito sentido, mas que se foda.” Dei de ombros.

Após o incidente no United Center, apesar de ter saído do lado vitorioso, continuei sem saber o que fazer. Antes, eu tinha um objetivo, algo a almejar.

Mas agora...

“Que falta de vontade, Sypher!” Samyaza reclamou. “Existem tantas coisas que você pode fazer nesse momento, tipo matar aqueles anjos malditos que estão sobrevoando aquele hotel...”

“Você acha mesmo que eu vou até lá comprar briga com anjos? Meu objetivo aqui é sobreviver.”

Mas você acabou de dizer que não havia objetivo a almejar...”

É verdade... o meu objetivo era, e ainda é sobreviver. Isso me fez lembrar de você, Rydia. Onde você está? Será que está tudo bem? Essas perguntas rodeavam meus pensamentos desde o momento em que eu acordei depois daquele massacre––– da minha quase morte.

Eu só espero que no fim, nos encontremos de novo.


Parte 2:

“Pode subir, não tenha medo.”

“Eu nunca cavalguei antes, então não me apresse, por favor.”

O cavalo branco olhava para mim, esperando que eu subisse nele. Seu companheiro, o cavaleiro Conquista, estendia a mão para mim, tentando me ajudar a subir.

Quem diria que um ser que está trazendo o apocalipse ao mundo pode ser tão gentil? Segurei a mão dele, e em apenas um puxão, Conquista me pôs encima do cavalo.

“Finalmente pude segurar sua mão macia novamente, Emunah. Já faz tanto tempo...” Conquista declarava, olhando para a própria mão.

Essa declaração me parece meio suspeita. Irei ignora-la por hora.

“Para onde vamos?

“Meus soldados já estão cuidando dos humanos espalhados pela cidade, então só nos resta procurar pelos seres das trevas.”

Agora faz todo sentido não haver nenhuma pessoa nas ruas, Conquista deve ter levado todos para o Paraíso. Isso, é claro que sim.

“Os seres das trevas seriam...”

“Demônios, é claro. A mulher que lhe atacou há algum tempo é um dos seres mais poderosos do Inferno, Yuzuko. Os humanos a conhecem por Orgulho.”

Orgulho? O que um representante tão influente do Inferno estaria fazendo na Terra?

“O que ela estaria fazendo na Terra? A pergunta é, o que ela não estaria fazendo aqui. Por que você acha que os humanos são orgulhosos?” Conquista dizia o que eu havia acabado de pensar enquanto dava com os calcanhares no cavalo, incitando-o a andar.

“Como você leu minha mente?” Perguntei.

“Ler mentes? Nosso Senhor não me deu tal dádiva, Emunah. A única coisa que eu fiz foi ler seu rosto, que revelava isso.

Eu não posso ser tão transparente assim, posso?

Permaneci em silencio, apenas sentindo a brisa acariciar meu rosto. Andar a cavalo era extremamente desconfortável.

“De qualquer forma, Yuzuko estava procurando por um humano específico, você o chama de Sypher, se não me falha a memória.” Conquista deu com os calcanhares no cavalo novamente, o cavalo acelerou.

“O que Sypher tem a ver com tudo isso?” Perguntei a ele.

“Não sei ao certo.” Suspirou. “Nosso Senhor não disse nada sobre. Eu diria que Sypher deve ter algo importante em sua posse.”

Não há nada de incomum no Sypher. Por que alguém estaria atrás dele, ainda mais demônios.

“Mas Yuzuko havia matado Sypher! Eu vi com meus próprios olhos. Não faz nenhum sentido ela estar procurando ele sendo que ela mesma o matou.”

“Ela realmente o matou?”

Conquista parou o cavalo, e olhou para mim por cima do ombro. O seu questionamento me pegou totalmente de surpresa.

“O que você quer dizer com isso?” Perguntei, meio receosa.

“Nada, apenas estou perguntando. Sabe, eu não sei de tudo...” Conquista sorriu, aquele sorriso bobo que uma pessoa faz quando tenta uma piadinha. “De qualquer forma, precisamos encontrar o corpo dele para ter certeza de que ele está morto. Se o caso não for esse, temo que só encontraremos respostas com Yuzuko.”

Yuzuko... aquele olhar misterioso, tudo o que ela falou. O que ela realmente queria?

Sypher, se você está vivo, me responda...

O que está acontecendo?


Parte 3

“Escombros, escombros, ah olha! Mais escombros!” Reclamei em voz alta, para mim mesmo.

Se minha situação já não fosse ruim o suficiente, tenho que ficar pulando escombros, desviando de cadáveres empalados em postes, e evitar os anjos. Samyaza, depois que eu decidi evitar qualquer confronto direto com anjos, parece ter “desligado” temporariamente, pois já fazem algumas horas desde que ela não berra alguma coisa.

A cidade está uma ruína absoluta. Parece que desde o encontro com aquela mulher, todos sumiram e as casas e prédios viraram pó.

Estou morrendo de fome, preciso achar algo pra comer, depressa. Pensando bem, eu deveria ter ficado com aqueles dois, eles deviam ter suprimentos.

“Acho que vou morrer.” Suspirei, sentando no chão.

Maldito sol, parecia estar ainda mais intenso, assim a minha pele vai derreter. Deitei ali mesmo, todo esticado, e fechei os olhos por alguns instantes, o suficiente para começar a ouvir vozes.

“Quer um gole d’água?”

Minha mente parece estar pregando peças, ou melhor, Samyaza parece estar pregando peças comigo.

Vou apenas relaxar, e fingir que não ouvi nada.

“Tudo bem, vou tomar tudo então...” A voz ecoou novamente, com um tom mais debochado.

“ESPERA!” Dei um pulo, segurando o braço da pessoa, sem nem prestar atenção em quem era. Tirei a garrafa d’água da sua mão, e tomei tudo num gole. “Ah... que delícia. Você é uma salva-vi... das...? O que vocês estão fazendo aqui?”

Quem havia me dado água era Júlia, acompanhada do grandalhão Carlos. Eles estão me seguindo?

“Nada de mais, quero dizer, não posso ia à procura do meu próprio filho?” Júlia perguntou, inclinando a cabeça para o lado, inocentemente.

“Filho? Não vi nenhuma criança perdida por aqui... Além disso, você não é muito nova para ter filhos?”

De repente, Samyaza resolve “renascer” na minha cabeça.

“Sypher, afaste-se dela. Eu sinto uma energia sombria ao seu redor.”

Ué, Samyaza, não é você a mais poderosa e maldosa? Por que teria cuidado com um pouquinho de energia sombria?

‘Pelo simples fato de essa mulher já ter tentado te matar anteriormente.”

“Não me reconhece, Sypher?” Júlia tirou a garrafa da minha mão, sorrindo. Carlos ficava em pé, atrás da Júlia, de braços cruzados.

“É claro que sim, você estava comigo lá no United Center há algumas horas.” Respondi.

“Tsc, tsc... errou~~” Júlia meneava o dedo indicador vigorosamente. “Talvez se eu fizer isso” Ela passou sua mão pelo rosto, e o mesmo caiu como se fosse uma máscara, trazendo à luz, um rosto extremamente familiar. “você entenda o que quero dizer.”

“M-mãe?! Não! Que bruxaria é essa? Pare com essas brincadeiras ridículas!”

Por uma fração de segundo, Júlia me pegou em sua feitiçaria. O que tudo isso significa? 
Enquanto eu continuava a me perguntar, Carlos permanecia parado, como uma estátua.

“Pensei que você gostasse desse rosto, Sypher. Tudo bem, se não gosta, irei mostrar meu verdadeiro rosto.” E fazendo o mesmo gesto de antes, Júlia finalmente se revela.

Samyaza tinha razão, a energia sombria que ela sentia era real. Um ser puramente sombrio, criado nos confins do inferno, estava de braços cruzados, sustentando os seios à minha frente.

A mulher que possuía apenas um olho, a mesma que tentou me matar.

“Parece que eu não consegui restabelecer completamente a conexão entre você e sua ancestral...” Ela dizia, desapontada.

“Você quem despertou Samyaza? Por que fazer isso? Por que dizer que sou seu filho? Afinal, quem é você?! Me joguei em direção à ela, apenas para ser barrado e arremessado longe pelo Carlos.

“Sou Yuzuko, talvez esse nome lhe faça lembrar de algo, Samyaza, ou eu deveria lhe chamar de mamãe?” Yuzuko declarou.

Mãe?! Espera, se Samyaza é a mãe da Yuzuko, isso significa que...

Ela realmente é minha mãe?

Subitamente, a voz de Samyaza, que antes apenas ecoava em minha mente, passou a ecoar pelo ambiente também, para todos ouvir.

“Parece que os milênios não mudaram-na. Arrogante e orgulhosa como sempre, Yuzuko.”

Yuzuko sorriu.

“Puxei você, querida mãe.” Ela riu. “Agora veja onde estamos. Finalmente seremos capaz de acabar com o Deus opressor. Lúcifer não esqueceu de você, e nem de nenhum Gregori. Todos serão livres!” Dizia, de punhos cerrados.

Sacudi a poeira do meu corpo, e me levantei.

“Não há como fazer isso! Parem de me levar para algo que não quero. Isso nunca vai funcionar... Deus é... poderoso demais.”

“Meu filho.” Yuzuko suspirou. “Você sabe que falo a verdade. O mundo é assim, não por causa do Lorde Lúcifer, mas sim devido ao Deus egoísta que mora imponente em seu trono nos céus! Agora que você sabe a verdade, utilize esse ódio que tem por esse mundo podre, e ajude-nos a criar um mundo novo.”

“Odeio dizer isso, mas tenho que concordar com ela, Sypher. Nós poderíamos reinar o mundo! Seríamos indestrutíveis, acabaríamos com quem nos desafiasse!” Samyaza exclamava.

Esse mundo sempre foi composto de idiotas. Ela tem razão. Por que eu deveria me preocupar com esse mundo podre?

Não faça isso, Sy!

Você sabe que deve fazer isso, você sabe que isso é o certo a se fazer!

“Aaaaaaah!!!!!” Explodi em raiva, vozes sussurravam opiniões contrárias, destruindo lentamente a minha mente. Cai de joelhos, com as minhas mãos na minha cabeça.
Eu não consigo pensar, não consigo responder. Só consigo sufocar em todas as dúvidas, em todas as mentiras, e em todas as verdades podres.

“Parece que você terá de fazer essa decisão mais cedo do que gostaria...” Yuzuko disse. “Sua amiguinha, está chegando com companhia nada amigável.”

R-Rydia está aqui?!

Ergui minha cabeça, e pude ver Rydia vindo em nossa direção, junto a um homem e um cavalo.

Yuzuko estendeu a mão em minha direção.

“O que você fará, meu filho? Continuará com medo demais para se erguer, ou caminhará para um futuro que você mesmo irá construir?”

Uma dor sufocante tomava conta de mim, mas ao mesmo tempo ela trazia à tona o que nunca quis acreditar. A dor me fez perceber o quão fraco sempre fui, e que o mundo sempre foi complicado, pois eu tornava-o assim.

O que eu estou dizendo?! Isso não é verdade! Eu sempre dei o máximo de mim. E se em algum momento eu fui fraco, meus amigos estavam lá para me ajudar a me tornar mais forte.

Acorda, Sypher! Meus amigos nunca se importaram comigo, sempre fui deixado de lado, justamente porque eu era fraco. Tudo nesse universo se reduz a apenas uma coisa: o poder.

Não... eu...

Chega de ser a pessoa a ser manipulada.

Eu me recu...

Chega de ser quem acata ordens sem perguntar.

N-não...!

Chega de ser o fraco que sempre fui, e que nunca fui destinado a ser.

Eu...

Segurei a mão da Yuzuko, e então me levantei. Nossos olhares se encontraram por um momento, tempo o suficiente para que ambos se entendessem.

Yuzuko sorriu, e me abraçou.

“Ótima escolha, meu filho.”


Adeus, Sypher.

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