Jisatsu no Otoko to Fumetsu no Baka:
- Parte Oito -
Eu deveria saber
que sair não seria uma boa ideia. Eu tenho vivido sozinho há um bom tempo,
mudar esse estilo não poderia trazer coisas boas.
Eu continuei a clicar continuamente enquanto lia as falas do jogo de
diálogos no computador.
"Sabe, a vida é feita para ser vivida".
Um riso seco escapou meus lábios. Como se um programa de computador
pudesse saber uma coisa como essa...
Algo molhado atingiu meu teclado. Eu arranquei um lenço de papel para
limpar, mas era inútil. As gotas apenas continuavam jorrando e percorrendo todo
o meu rosto.
Que injusto... Eu não posso aceitar isso!
Que tipo de destino insano faz isso com alguém!? Primeiro meu irmão e
agora ela... Eles eram tão cheios de vida... Mais ainda, eles não fizeram nada
de errado! Eles eram apenas crianças! Por que eles tinham que morrer!?
E agora você espera que eu apenas aceite isso!?
Esse mundo está errado!
. . .
Eu me sentei no banco logo ali na frente e fiquei observando os detalhes
da escola sob o nascer do sol.
Debaixo do braço direito, eu carregava uma caixa branca de formato
tradicionalmente característico. De dentro dela, eu podia sentir o cheiro
magnífico do meu Pepperoni. Em outras circunstâncias isso me deixaria animado,
mas, naquele dia, meu rosto se manteve apático.
Ela tem que vir...
Eu senti algo fuçar o meu pé, então eu olhei. Um cachorro. Não era muito
grande, e não é como se eu gostasse de animais, então eu o enxotei.
—
Vamos, saia daqui. — eu o empurrei, mas ele continuou me olhando e abanando o
rabo. O olhar dele estava fixo em uma única coisa. — Você não pode estar
falando sério. — ele continuou me olhando, apenas confirmando o que eu havia
perguntado. — Que saco...
Eu
abri a caixa e tirei com grande pesar um pedaço da pizza de Pepperoni,
jogando-o no chão. O cachorro alegremente devorou o pedaço, me deixando em paz.
Eu
pensei que estaria livre e em paz agora, mas me assustei quando, do meu outro
lado, ouvi um latido.
Um
cachorro, dessa vez bem maior, acompanhado de outros dois.
—
Vocês também, é? — eu tirei um pedaço pra cada cão e joguei no chão, para que
me deixassem logo em paz.
No
entanto, no muro acima da minha cabeça, eu ouvi outros sons. Miados.
Haviam
dois gatos, um preto e outro branco, me olhando fixamente. Com raiva, eu
agarrei dois pedaços de pizza e os atirei do outro lado do muro.
—
Vamos, vão embora! — meu grito foi o bastante para assustar todos os animais
que me cercavam, lambiam ou miavam. Eu sentei na cadeira novamente, encarando
os únicos dois pedaços de pizza que haviam sobrado.
Foi
então que eu notei, do outro lado da rua, uma garota me olhando sem acreditar
nos seus olhos. Eu me dei ao trabalho de levantar mais uma vez e fechar a caixa
de pizza, olhando-a nos olhos.
—
Aí está você.
—
Mas... Por quê? — os olhos dela tremeram, como se ela estivesse prestes a
chorar.
—
Não é óbvio? Eu estava esperando você. Venha, sente-se. — eu a chamei e
indiquei o banco ao meu lado.
Os
passos curtos dela fizeram com que ela demorasse de chegar, mas finalmente ela
se sentou. Eu dividi os dois pedaços de pizza para cada um, e nós começamos a
comer.
A
garota balançava os pés, que não chegavam a alcançar o chão. Ela olhou para
mim, sem saber ao certo como dizer o que queria.
—
Se você estiver se referindo àquilo, eu já descobri. — eu indiquei com a ponta
do nariz a direção do memorial cheio de flores que se encontrava próximo à
entrada da escola. Ela então abaixou o rosto e deu uma mordida na pizza,
provavelmente pelo fato de que eu acertei em cheio.
—
Me desculpa por te arrastar daquele jeito. — ela olhou pra mim mais uma vez,
com uma expressão culpada no rosto.
—
Eu estava me divertindo, pra falar a verdade. — eu olhei pra ela de canto de
olho, sem dar muito o braço a torcer.
—
Mesmo? — ela perguntou animada.
—
Mesmo. — eu sorri, mas foi pra mim mesmo. — Quem diria que eu poderia me
divertir saindo... — eu lembrei das vezes que tinha ido no parque quando era
mais novo. Pensando nisso agora, são boas memórias. — Mas a verdade é que eu é
que tenho que me desculpar.
—
Eh? Pelo quê?
—
Eu... Mesmo não sabendo, eu não deveria dizer aquelas coisas perto de você.
Quero dizer, tudo aquilo sobre estar morto. — eu olhei para um ponto aleatório
no chão, buscando alguma espécie de refúgio.
—
Não, eu também não sabia. Eu descobri isso ontem... — ela deu aquele sorriso
idiota de sempre. Não saber que você mesma está morta... Realmente sua cara.
—
Tem algo que eu quero te perguntar.
—
Hm? O que é?
—
Por que você apareceu logo pra mim? Você tem amigos, e tem seus pais também.
—
Eu... — ela olhou pra baixo, como se desse tudo de si para pensar nisso. — Não
sei... Talvez eu tivesse algum desejo. Algo que só você pudesse realizar.
—
Como ir ao parque? — eu perguntei a primeira coisa que veio a minha cabeça.
—
É, como ir ao parque! — ela falou, se convencendo de que deveria ser aquilo.
—
Mas, se fosse isso, já não deveria ter se realizado? Além do mais, qualquer
pessoa poderia te levar lá. — eu falei, e, mesmo que não fosse minha intenção,
a expressão dela ficou tristonha novamente.
—
Acho que você está certo...
Naquele
momento eu pensei que talvez, só talvez, fosse eu quem precisava dela. Era
apenas uma possibilidade, mas talvez ela estivesse ali por minha causa, naquele
momento.
—
Quando eu estava viva... — a garota falou, com um pouco de pesar. — Meus pais
não me deixavam sair. Não que eles fossem pessoas ruins, mas eles apenas conseguiam
me dizer pra estudar, porque deveria ser alguém na vida. Eu sei que eles
estavam pensando no meu futuro, mas eu queria poder sair pra brincar com as
outras crianças... Há dois dias, quando dei por mim, estava sozinha. Estava
livre, pela primeira vez! Eu fiquei tão feliz que saí correndo por aí, e acabei
me esbarrando com você. — ela corou um pouco e coçou a cabeça, pedindo
desculpas por isso. — Antes que eu percebesse, já estava te arrastando pros
lugares... — ela falou e eu sorri, percebendo uma coisa.
—
Você é totalmente o oposto de mim.
—
Eh? Como assim?
—
Você queria poder experimentar o mundo lá fora, mas nunca pôde. Já eu tenho
todas as oportunidades do mundo pra fazer isso, mas vivo com medo. Que
irônico... — eu entrelacei os dedos e relembrei a injustiça do mundo que tira a
vida das pessoas que têm gosto por ela.
— Você devia experimentar, sabe? — ela falou
pra mim, com a voz alegre e otimista de sempre. — Eu posso não conhecer tanto
esse mundo quanto gostaria, mas... Ele é realmente bonito. — nós tomamos aquela
pausa para observar o final do nascer do sol. — E tem muitas coisas divertidas
para se fazer, pessoas legais pra se conhecer... Pessoas como você, eu acho!
—
Eu? Eu não sou tão legal assim. — eu sorri. Um sorriso sincero, algo realmente
raro desde muito tempo atrás.
—
Você é legal! Apesar de que... Eu ainda não sei seu nome.
Agora
que ela falou, eu notei. Eu nunca cheguei a me apresentar.
—
Kurogami Kano. Kano está bom.
—
Entendi. Kano-san, então! — ela sorriu, e eu a acompanhei.
— O
que vai acontecer conosco, agora?
—
Eu não sei... Mas... Eu acho que eu gostaria de brincar! Apenas mais um pouco,
enquanto eu puder... — ela estendeu sua mão na direção da grande estrela ardente
acima de nós. Eu me levantei, e então estendi a mão para ela.
—
Entendi... Vamos brincar.
Ela
sorriu, deixando que nossas mãos se tocassem.
E
assim, o sol nasceu, deixando para trás as sombras que nos cercavam.
- Parte Oito -
- Até o Fim dos Tempos. -
- Até o Fim dos Tempos. -
- Epílogo
-
Acho que posso
dizer que os últimos dias mudaram a minha vida.
Eu conheci uma idiota vinda dos mortos, fui arrastado por ela em direção a
lugares que para mim eram totalmente odiáveis...
E olhe só onde estou agora.
Eu estou saindo de casa por conta própria pela primeira vez... Estou realmente
saindo pra buscar alguma coisa, pela primeira vez em muito tempo.
Eu me pergunto se um dia eu vou encontrá-la de novo. Eu realmente
gostaria disso.
Eu não sei se eu estou realmente pronto pra tudo que a vida pode jogar em
cima de mim... Mas, se eu tiver a coragem para dar o primeiro passo, sinto que
posso conseguir o que eu quiser com um pouco de esforço.
O mundo ainda é injusto... Mas ele também é bonito. Isso é algo que me
ensinaram.
Eu toquei a maçaneta e deixei a luz iluminar o interior do meu quarto.
Que irônico, não acha?
Eu precisei de alguém que não poderia mais viver nesse mundo pra lembrar
de algo que eu havia esquecido...
Eu estou vivo. E isso é algo que eu jamais vou esquecer.
Chega a ser engraçado que, quando eu paro pra pensar, tudo isso é graças
àquela eterna idiota.
Mesmo assim...
Obrigado.
- Epílogo -
- A Eterna Idiota. -
- A Eterna Idiota. -
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