JisaBaka - Partes 02 e 03



Jisatsu no Otoko to Fumetsu no Baka:

O Homem Suicida e a Eterna Idiota.



Parte Dois  -


O sol do verão castiga aqueles que ousam desafia-lo saindo de casa num dia pela manhã. "Você deveria estar dormindo", ele diz. Eu não posso discordar, mas às vezes algumas coisas simplesmente saem do nosso controle.

Atrás de mim, uma melodia constante e irritante era cantarolada pela encarnação de todos os meus pesadelos.

Eu parei de caminhar. Minhas pernas protestavam, meu estômago roncava, e, sinceramente, minha paciência chegou ao limite.

Eu não olhei para trás. Se olhasse, com certeza perderia o controle e cometeria um assassinato ali mesmo.

— O que você pensa que está fazendo? — eu ouvi os passos e a melodia logo atrás de mim cessarem.

— Hmm? Do que está falando?

— Eu quero dizer, por que você está me seguindo? — eu apertei os punhos dentro dos bolsos. Controle, respiração...

— Ué, não posso? — a garota perguntou, inocentemente.

— Mas é claro que não pode! — eu me virei bruscamente para trás, gritando e cuspindo gotas de saliva no rosto dela. Ela fez uma cara de nojo em resposta. — Pra começar, você destruiu meu Pepperoni! Isso é imperdoável! — eu contive uma lágrima de escorrer do meu olho. — E olhe o que você me fez passar! Eu estou aqui fora por sua culpa! Agora eu vou morrer assado e ensopado!

— Eu... realmente acho que você devia escolher apenas um jeito para se cozinhar.

— Não, espere... Por que eu estou aqui fora? Eu sou um homem morto, de qualquer jeito... Sim, é isso... Eu sou um homem suicida! Morrer cozido ou de fome não faz diferença...

— Ah! Então você é um espírito, ou algo assim? — os olhos da garota estranhamente brilharam, quase como se quisesse que eu estivesse biologicamente morto.

Na verdade, agora que eu paro pra pensar... Essa garota nem mesmo deve existir. Sim, ela é a representação de uma vida sem sentido, da fome e do calor do verão entrando dentro do meu cérebro. Agora que eu me dei conta disso, ela certamente irá desaparecer.

— Vou pra casa... — eu dei meia volta e retornei, certo de que a distância até uma loja de conveniência seria trabalhosa demais para valer a pena.

— Espere, senhor espírito! Aonde você vai?

Eu me virei para trás, fitando o rosto da garota que ainda insistia em me seguir.

— O quê, você ainda está aqui? — eu me virei. Talvez ela não seja exatamente uma alucinação minha, no fim das contas.

— Eu conheço um ótimo lugar! Ele fica a apenas alguns minutos daqui! — ela apontou na direção em que eu estava seguindo antes, com um rosto tão iluminado que chegava a ser inconveniente.

"Alguns" minutos, ela disse?

— Não vai dar.

— Eh!? Por favor! — ela agarrou minhas calças e começou a me puxar.

Me pergunto aonde ela pararia se eu a chutasse com toda a minha força...

— Eu prefiro morrer a ter que andar até lá.

— Mas eu achei que você já estivesse morto! — ela olhou para mim com aquela cara de criança que descobre que lhe contaram uma mentira. Eu suspirei, sem nenhuma paciência para isso.

— Foi uma metáfora. Eu estou socialmente morto.

— Mete a fora? Eu nunca ouvi falar! — meu rosto se dobrou como se estivesse sendo zoado, mas então me lembrei que ela devia ter apenas nove anos. E então, como se esquecesse completamente do assunto, ela voltou a falar. — Ei, ei, lá eles servem um bife muito gostoso! Vamos, vamos!

De repente, eu me lembrei. Eu odeio crianças.


. . .



Com a respiração ofegante, os membros tremendo e o corpo praticamente se arrastando no chão, eu alcancei a cadeira e consegui me sentar nela.

— Eu quase morri... — eu bati minha cabeça contra a mesa, deixando que todos os meus músculos descansassem sobre o apoio de algum objeto.

— Haha! Você é engraçado, espírito-san! — a garota riu, como se o fato de eu dizer que quase morri fosse alguma piada para ela.

— Eu não sou um espírito! Eu sou um homem suicida, entendeu? Um homem suicida!

— Então eu vou te chamar de Suicida-san! — ela falou aquilo com uma animação incomum. Ela nem deve saber o que isso significa. — Meu nome é Fujimoto Aika! Mas você pode me chamar de Ai-chan! — ela fez uma pose especial com um símbolo de "paz e amor" na frente dos olhos, como se imitasse alguma celebridade por aí.

— Você é uma idiota. — eu olhei para ela com uma feição entediada.

— Eh!? Eu não sou uma idiota! — ela se emburrou e bufou as bochechas, claramente irritada.

— Deixando isso de lado, por que você veio ao restaurante comigo? Você não espera realmente que eu vá pagar algo pra você, não é? Além disso, as pessoas podem ter a ideia errada se me virem aqui com você. — eu falei num tom imperativo, mas tive cuidado de falar baixo para que ninguém das outras mesas pudesse ouvir.

— Que ideia elas teriam? — ela inclinou a cabeça para o lado, sem fazer ideia do que eu estava falando.

Droga, eu odeio conversar com crianças... Por que ela simplesmente não entende o que eu quero dizer?

Eu bati a cabeça contra a mesa novamente, totalmente desiludido.

— Bem-vindo! Como posso ajuda-lo?

Eu ouvi uma voz feminina vinda da minha direita, então virei o rosto, ainda deitado. Uma atendente uniformizada estendia um cardápio para mim, então eu o peguei e passei rapidamente o olho nos pratos.

Se eu bem me lembro, ela falou algo sobre um bife... Já que eu decidi vir até aqui, acho que é isso que eu deveria provar.

— Eu vou querer um desse bife especial. — eu falei e entreguei o menu a mulher.

— E eu? Vamos, peça algo pra mim, eu estou com fome! — eu decidi ignorar a garota, fechando os olhos para tentar fazer a voz dela desaparecer. — Peça algo, eu preciso comer algo! Vamos, você vai me deixar assim? — ela continua me irritando cada vez mais e mais...

Droga, o que eu fiz pra merecer isso...

— Traga também dois copos de suco de laranja. — eu chamei a atenção da mulher antes que ela pudesse ir embora, mas ela olhou para mim um pouco confusa.

— Dois?

Ela olhou para mim e depois para a cadeira na minha frente, onde a garota estava sentada.

— Sim, algum problema com isso? — eu lancei um olhar intimidador para ela, que pareceu engolir a seco e dar um passo para trás.

— N-Não, eu vou trazer logo. — eu fiquei olhando enquanto ela entrava mais afundo no estabelecimento, sumindo da minha visão.

— Ei! Por que você não pediu nada para mim!? Eu vou ficar com fome!? — a garota se inclinou para frente, aproximando seu rosto do meu. Claro, ela teve que ficar de pé na cadeira pra fazer isso.

— Você já comeu o meu Pepperoni, no fim das contas. — eu desviei o olhar e deixei a garota se irritar ainda mais.

— Mas isso não é o bastante! — ela falou ainda mais alto e se aproximou ainda mais de mim.

— Não é como se eu tivesse alguma obrigação de te alimentar ou algo do tipo... — eu notei o olhar torto de algumas pessoas vindo na minha direção. — E olhe só, você está chamando atenção demais. Fique quieta um pouco.

— Mas... — ela se sentou e tomou uma expressão triste. Eu não me importei.

Não demorou muito para que o prato chegasse. Ela trouxe também os dois copos de suco, e eu entreguei um deles para a garota de cabelos castanhos. Ela ficou me olhando de cara fechada enquanto eu devorava o bife, fazendo movimentos estrategicamente provocantes.

Pode ser que eu seja um sádico por fazer isso com uma criança, mas essa é minha forma de me vingar.

Eu fiz uma pequena pausa para beber um pouco do suco, e abri um dos olhos para olhar para a garota.

— Eu pedi isso pra você. Não vai beber? — eu fitei o copo intocado de suco.

— Não. Eu quero bife. — eu estalei os lábios, irritado.

— Entendi... Então acho que não tenho escolha... — ela olhou para mim com um leve brilho no olhar, a medida que eu levantava a mão.

E então...

Eu agarrei o copo de suco dela e bebi tudo num único ataque mortal.

— Uaah! — ela estendeu a mão um pouco tarde demais, tentando salvar o copo de seu destino já traçado.

— Você é mal! — ela olhou para mim com lágrimas se formando nos olhos.

— Ninguém nunca disse que eu era bom. — eu sorri, satisfeito, e então voltei minha atenção para finalizar meu bife.

Não está...

Eu levantei o rosto, e lá estava ele. A mesma cena novamente, com a garota devorando meu pedaço de bife como um animal. Eu levantei instintivamente da cadeira enquanto olhava incrédulo para a cena.

— V-Você! — eu falei um pouco mais alto do que desejava. As pessoas do estabelecimento olharam para mim e fizeram comentários que me deixaram desconfortável. Droga, todos eles me julgando...

Eu abaixei a cabeça e regulei meu tom de voz.

— Olha o que você me fez passar!

— É o que você ganha por ser uma pessoa ruim! — e foi então que eu percebi...

Eu com certeza fui amaldiçoado.



- Parte Dois -
- Olhares que Julgam.
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Parte Três  -



Volte sempre! — eu escutei a voz da garçonete se despedir animadamente de nós enquanto saíamos pela porta. Naturalmente, eu não respondi.

— E agora, o que vamos fazer? — a pequena garotinha ao meu lado indagou. Eu a olhei, totalmente entediado.

— Vou pra casa... — eu falei e me virei comecei a caminhar. O sol de pouco após o meio-dia, no entanto, pareceu gritar para que eu ficasse lá dentro.

— Eh! Que chato!

— Se você não gosta apenas pare de me seguir. — eu decidi que seria ainda mais chato apenas ficar ouvindo ela reclamar, então encarei o sol e continuei a tomar o caminho para casa.

— Eu soube que abriram uma nova loja de bolos aqui perto! Vamos lá ver! — a garotinha me puxou pela camisa e apontou, é claro, na direção oposta a qual eu estava indo.

— Ei, quem você pensa que eu sou? Seu irmão mais velho? — eu dei um passo largo para trás e fiz com que ela largasse a minha camisa. — Apenas me deixe em paz...

— Irmãozão, vamos! — aqueles olhos brilhantes eram uma tentativa clara de seduzir meus instintos de querer uma irmã mais nova. Mas aquela era uma tática que não funcionaria comigo.

— Eu não sou seu irmão!  — eu falei um pouco alto, fazendo com que pessoas que passavam na rua me olhassem novamente. Mais uma vez, eu me encolhi. Mas isso me leva a pensar... — Ei, onde estão seus pais?

— Meus pais? Hum... — ela levou um dedo até a boca e olhou para o céu, pensando na pergunta. — Não sei!

Eu fiquei olhando para ela com uma feição abobada. Ela está realmente tirando com a minha cara, não é?

— Vou ligar para a polícia. — eu tirei o celular do bolso e o abri, colocando na tela de discagem. Antes que eu pudesse apertar alguma coisa, no entanto, a garota praticamente saltou em cima de mim pra me impedir.

— Aah, não faça isso!

— Por que não? — eu me livrei mais uma vez do contato com a garota, dando mais três passos para trás.

— É que eu nunca tenho a chance de ficar sozinha e fazer as coisas que gosto... Então apenas hoje, eu queria poder sair por aí e brincar...

— Ah, é esse o caso?

— Sim! — ela concordou, com uma expressão determinada no rosto.

— Vou ligar pra polícia. — eu disquei rapidamente os números e levei o celular até o ouvido.

— Ah, não! — ela pulou e agarrou meu braço, tomando meu celular antes que eu pudesse fazer qualquer coisa.

— Você é mesmo problemática, não é? — eu olhei para ela com desdém no olhar.

— Você não está pensando nisso direito! — ela deu uma piscadela com o olho esquerdo, como se quisesse dizer algo que eu não fazia ideia do que fosse.

— No que?

— Veja, meus pais têm bastante dinheiro, e são muito superprotetores também! Tenho certeza que se eu sumisse por, não sei, um ou dois dias, eles colocariam uma recompensa para quem me achasse! — ela falou, me dando cotoveladas na cintura a cada palavra que concluía.

— Você está falando sério? — eu estreitei os olhos, incrédulo.

— Sim! E você parece bem pobre, com certeza poderia usar o dinheiro para alguma coisa!

Essa doeu...

Eu suspirei, me dando por vencido.

— Certamente não posso discordar, mas não sabia que isso era assim tão aparente.

— Bom, quando você quase chora quando vai pagar a conta no restaurante, a coisa fica um pouco evidente!

— Cale a boca... — eu a cortei, desviando o olhar em seguida.

— Então, o que você acha? — ela aproximou seu rosto de mim e o inclinou levemente para a esquerda, buscando uma resposta. Eu cocei a cabeça. Eu certamente preciso do dinheiro, mas andar por aí com essa garota é problemático... Será que vale mesmo a pena?

Eu troquei o peso de uma perna para a outra e só então me dei conta de que o bolso estava bem mais leve. É verdade, eu tive que pagar o dobro pela minha refeição de hoje... Não posso me dar ao luxo de ser um desempregado que recusa até mesmo uma oferta de dinheiro fácil.

Eu olhei para a garota, que ainda tinha aquele sorriso infantil estampado na cara.

— Bom... Acho que não tenho escolha. — o sorriso dela se iluminou, como se eu tivesse a dado um presente de natal ou algo assim.

— Vamos! A loja fica por aqui! — ela saiu correndo na direção que havia apontado mais cedo.

— Ei, espere! — eu estiquei a mão, inutilmente tentando alcança-la. É claro que não me daria ao trabalho de correr atrás dela, então apenas caminhei a meu próprio passo naquela direção.


. . .



Eu fitei a vitrine, incrédulo do que estava vendo.

— 1200 yen por um pedaço de bolo!? — eu colei o rosto contra a vitrine para checar se realmente era aquilo que eu estava vendo. Não havia erro. — Vamos a outro lugar. — eu dei meia volta e comecei a caminhar numa direção diferente.

— Eh!? Mas eu quero bolo! — ela correu até mim e me agarrou pela manga da camisa, me puxando na direção da loja. — Bolo, bolo!

— Eu já disse que não. — eu continuei caminhando, ignorando os puxões da garota, que foi arrastada pelo chão enquanto gritava em protesto.

E então, acabamos passando o dia por ali. O sol não estava dando trégua, então decidimos pegar um sorvete. Depois disso, a idiota me arrastou para uma sessão de um pequeno cinema onde estava passando um filme sobre robôs gigantes enfrentando monstros vindos do espaço. Não que o enredo fosse mal feito, mas esse não é exatamente o tipo de coisa na qual eu estou interessado. Prefiro histórias clássicas e medievais do que a subjetividade de um futuro alternativo. O ar-condicionado, porém, foi muito bem-vindo.

Depois que saímos do cinema e voltamos para o inferno do mundo real, ela acabou me arrastando para um fliperama que havia ali na frente. Eu gosto de jogos, é claro, então você imaginaria que esse é o tipo de lugar que eu gostaria de estar...

Mas...

Jogar é algo sagrado! Não é algo que deve ser feito na presença de outras pessoas que podem te olhar e copiar seu estilo de jogo... Droga, por que tínhamos que vir aqui?

E ainda, por cima de tudo isso, eu sinto que desde que conheci essa garota o dinheiro no meu bolso fica cada vez mais e mais curto... Logo ele vai acabar e eu vou ter que... Trabalhar.

Mesmo a mera imaginação dessa palavra me faz ter calafrios.

— Suicida-san, rápido! — a garota acenou para mim e entrou depressa no estabelecimento.

— Você com certeza é cheia de energia, não é... — eu a segui a passos lentos, entrando lá sem muito ânimo.

A garota estava com um brilho incomum nos olhos, como se nunca estivesse estado num lugar como aquele antes. Ela praticamente saltava de máquina em máquina, querendo saber do que cada uma se tratava.

— Ei, ei, Suicida-san! Esse aqui é pra dois jogadores! — ela deu duas batidinhas num jogo do tipo arcade que se encontrava num dos cantos do lugar.

— Você realmente não sabe o que isso quer dizer, não é? — eu me aproximei e examinei o jogo. Certamente já joguei ele em algum momento remoto da minha vida, embora eu não consiga me lembrar exatamente quando. — Você precisa de fichas pra jogar isso, espere aqui. — eu me virei e fui na direção do balcão comprar algumas fichas.

Quando eu inseri as duas fichas que comprei para liberar o modo de dois jogadores da máquina, algumas pessoas olharam esquisito para mim. Um fato que já havia acontecido algumas vezes no dia de hoje.

Me pergunto se eles realmente tem a ideia errada do que está acontecendo aqui...

— Ah, começou! — a garota apontou para a tela e começou a mover a nave espacial dela aleatoriamente. Na verdade, ela era tão ruim que eu tinha que arriscar minha própria pele para salva-la em diversas situações.

— Ei, pare de se atirar assim! — eu falei, mas a garota não me deu ouvidos. Apenas continuou colocando a nave dela muito na frente e me dando trabalho para salva-la.

O resultado não poderia ser outro. Nós morremos na primeira fase.

Eu a arrastei para fora do fliperama, completamente encabulado. Eu, um HikiNEET declarado, perder na primeira fase de um jogo como esse? Droga, que humilhação...

A garota berrou e protestou, mas acabamos saindo da loja em poucos passos.

— Você é chato! — ela bufou as bochechas de raiva e olhou para mim com cara de má.

— Sim, sim... — eu não dei muita importância e apenas continuei caminhando debaixo do maldito sol.

Ela continuou me arrastando para todos os lugares que achou que poderiam ser divertidos. Em certo ponto eu tive que parar para respirar num dos bancos da praça, e ela usou dois panfletos que recebemos na rua para me abanar.

Não que tenha realmente adiantado alguma coisa...

No fim das contas, eu nem sei por que eu estou saindo com ela... Não sou idiota o bastante pra realmente esperar receber um resgate por isso ou mesmo alguma recompensa.

Provavelmente é por causa dele.

Eu nem sempre fui esse cara negativo e que odeia tudo ao seu redor.

Naquela época, nós estávamos sempre juntos.







Parte Três  -
- Dia de Liberdade.
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