Jisatsu no Otoko to Fumetsu no Baka:
- Parte Seis -
A garota abriu
os olhos e olhou ao seu redor, se perguntando aonde estava.
Ela se lembrou um instante depois, com um sorriso, ao ver o homem de
cabelos negros deitado de uma forma completamente torta sobre a cadeira.
—
Acho que já causei problemas demais pra você... — ela falou, enquanto
sorrateiramente se esgueirava para fora da cama. A garota continuou e cruzou o
caminho até a porta, abrindo com cuidado a maçaneta.
Ela
deu uma última olhada para o homem na cadeira, e presenteou-lhe com um sorriso
de despedida.
—
Bons sonhos. — ela falou, e fechou a porta com cuidado.
. . .
A garota seguiu pelas ruas que conhecia e desconhecia, aventurando-se
pelos remotos cantos da cidade, enquanto o sol da manhã gentilmente a
iluminava, acompanhado da gentil canção que para ele era cantarolada. Em uma de
suas campanhas, ela encontrou um lugar que lhe era familiar.
—
Minha escola fica por aqui! — a menina bradou e correu animada naquela direção.
O
horário da manhã era sempre muito movimentado. Crianças chegam e se despedem de
seus pais, prontas para uma aventura matinal no mundo do saber. Bom,
teoricamente. Mas o fato é que uma multidão de garotos e garotas uniformizados,
de idades próximas à de Aika, se encontrava acumulada na entrada da escola. A
garota procurou por um rosto conhecido e sorriu satisfeita ao encontrar.
—
Hana-chan, Kaori-chan! — a garota chamou os dois nomes de duas amigas e acenou.
No entanto, elas pareceram não escutar, e apenas adentraram na escola. — Que
estranho... — a garota tinha certeza que havia gritado no tom certo.
Do
outro lado, ela avistou um garoto, e então pareceu se lembrar de alguma coisa.
—
Senjirou-san! Você conseguiu passar daquela fase? — o garoto entrou na escola,
bocejando, claramente afetado pelo seu sono matinal. Mas o fato é que, sem
dúvidas, ele a havia ignorado. — Senjirou-san? — ela chamou mais uma vez,
apenas para ter certeza que ele havia ouvido.
Mas
não houve nenhuma reação.
A
garota ficou insegura, nervosa. Ela não sabia ao certo por que, mas algo ali
estava extremamente errado.
—
Alguém! Olhe pra mim! — ela correu de um lado a outro, tentando chamar a
atenção das pessoas ao seu redor. Mas ninguém a ouvia. Ninguém nem mesmo olhava
em seus olhos. — Por que vocês estão me ignorando? Eu fiz alguma coisa errada? —
a garota encheu-se de lágrimas nos olhos, se perguntando qual era sua parcela
de culpa em tudo aquilo.
Ela
avistou uma mulher adulta caminhando em meio aos outros, e tentou, também,
chama-la.
—
Professora! Fale comigo! — mas aquela pessoa também a ignorou. A garota foi
tomada por lágrimas. "É apenas um pesadelo", ela pensou, enquanto
agarrava suas orelhas e as apertava, numa tentativa desesperada de acordar.
Na
calçada, do lado de fora da escola, havia um garoto que ela também conhecia.
Ele estava acompanhado da mãe dele, e havia deixado uma pequena flor em frente
a um memorial, junto com outras flores que lá se encontravam.
O
garoto caminhou cabisbaixo, consolado pela mãe, tentando evitar que os outros
vissem as lágrimas que se formavam em seus olhos.
—
Hiro-kun? — a garotinha levou uma mão ao peito ao vê-lo passar triste daquele
jeito. Porém, ele também a ignorou.
A
menina deu passos vacilantes em direção ao memorial, e pegou a flor que ali
havia sido deixada. Ainda insegura, ela levantou seu rosto, fitando a pedra com
cuidado, até que finalmente leu o que estava escrito.
Mas
aquilo era mais do que ela poderia suportar.
—
Não... Não... — ela deu dois passos para trás, atordoada, indo parar no meio da
rua. Foi então que aquelas memórias voltaram.
Uma
voz forte, a voz que reconhecia ser a do seu pai, gritou por seu nome, tentando
desesperadamente alcança-la e evitar o inevitável.
—
Aika! — ele a chamou. Mas quando ela percebeu que aquilo vinha na sua direção,
era tarde demais.
Apenas
um baque surdo, e então a escuridão.
A
garota chorou em desespero, sem conseguir aceitar a realidade. E, embora
ninguém pudesse ouvir, tudo o que tomava aquele lugar eram seus gritos e seu
choro inconsolável.
- Parte Seis -
- Flor de Despedida. -
- Flor de Despedida. -
- Parte Sete -
Eu abri os
olhos lentamente. Levou um tempo até que eu entendesse por que eu havia dormido
naquela posição estranha.
Quando eu me levantei, praticamente todos os músculos do meu corpo me
pediram pra morrer. Eu instantaneamente sentei de novo, já arrependido do dia
de ontem.
Mas isso foi realmente estranho... É como se eu estivesse vivendo na pele
de uma outra pessoa... Um sonho, talvez?
Eu me lembrei da pequena garotinha que havia me atormentado no dia de
ontem, então virei a cadeira na direção da cama.
Ela estava vazia.
—
Ela foi embora sem falar nada? Tsc... — contra os protestos do meu corpo, eu me
levantei e abri a porta. Eu não me daria ao trabalho de descer os degraus para
checar, mas não teria problema se fosse apenas para espiar a entrada lá de
cima.
E
lá estava ela. Sentada na entrada do edifício, abraçando as próprias pernas. De
alguma forma, aquela garota parecia diferente da garota enérgica e cheia de
vida com quem eu havia estado ontem.
Eu
nem acredito que vou fazer isso...
Com
muito esforço, eu desci cada degrau daquela maldita escada. Mesmo tendo
demorado vários minutos no processo, a garota não percebeu a minha presença,
então eu tive que chama-la.
—
Ei, idiota, o que está fazendo aí? — eu coloquei as mãos nos bolsos e lancei um
olhar entediado para ela. Ela levantou o rosto e me olhou nos olhos.
Meus
olhos já foram como aqueles. Os olhos de quem havia experimentado uma grande
dor.
— O
que aconteceu? — minha expressão não conseguiu se manter neutra e impassível
como sempre. Mesmo sem entender por que, eu havia ficado preocupado.
A
garota se levantou e, contrariando tudo o que havia me passado até então,
colocou um sorriso no rosto.
—
Não aconteceu nada! E então, o que vamos fazer hoje? — ela falou, embora eu não
pudesse acreditar. Realmente não aconteceu nada?
Eu
olhei para ela, impotente. Eu não sou um familiar dela nem algo do tipo. Não é
como se eu pudesse fazer algo, mesmo se quisesse.
—
Ei, não devíamos ligar pros seus pais? Eles com certeza devem estar
preocupados.
—
Sabe, tem um lugar que eu sempre quis ir! — a garota falou, animada, embora
tivesse ignorado o que eu havia dito. — Mas meus pais nunca puderam me levar...
Você vai comigo, não é?
—
Eh...? — eu fiz cara de idiota enquanto ela estendia para mim um panfleto de um
parque de diversões. — Um parque?
—
Sim! Vamos lá! — ela agitou o panfleto
ainda mais forte, praticamente esfregando-o na minha cara, e também puxou a
manga da minha camisa.
—
Seus pais devem estar preocupados... — eu continuaria a falar, mas algo me
interrompeu. O olhar da garota havia mudado novamente para aquele olhar
tristonho, desolado. Sua mão direita apertando o tecido da minha camisa, com
força.
—
Por favor.
Eu
não sei exatamente o que está acontecendo, mas... Tem algo a mais nos olhos
dela. Algo... profundo.
—
Tudo bem... Vamos. — eu concordei, me vendo sem saída.
. . .
Isso é de matar...
O sol na verdade acabou escolhendo ficar pior no dia de hoje. Eu acabei
fazendo um abanador caseiro com o panfleto que a garota estava carregando, mas ele
parecia não estar sendo nada afetivo.
E o pior é que eu nem mesmo me lembro o porque de vir aqui.
—
Ei, ei, vamos naquele ali! — a garota apontou um brinquedo no qual um barco
subia uma rampa e então descia velozmente em direção a uma poça d'água.
—
Hã? Naquele ali? Vamos ficar ensopados! — eu olhei para ela, demonstrando minha
total falta de vontade de ir naquele brinquedo.
—
Vamos! Eu quero ir! Vamos, vamos! — ela continuou insistindo e insistindo, ao
ponto de que eu não pude resistir.
E
como o universo indicou, ficamos ensopados.
—
Feliz agora? Como vamos nos outros brinquedos desse jeito? — eu a encarei,
dando-lhe uma bronca. Ela, no entanto, parecia muito certa do que estava
fazendo.
—
Você fica reclamando o tempo todo do calor! Além disso, você estava mesmo
precisando de um banho. — ela falou, num tom convencido.
—
Ora, sua...
—
Ei, vamos naquele agora! — ela apontou um outro brinquedo, dessa vez uma
montanha russa.
— O
que? Nem pensar que eu vou subir naquilo.
—
Ah, vamos! Ou você é um covarde? — ela olhou para mim e ameaçou fazer a
degenerável dança da galinha.
—
Você está brincando com forças que desconhece, mocinha... — eu a ameacei, e
tenho certeza que uma veia saltou na minha testa.
—
Frangote! — ela ciscou uma vez, me fazendo fechar um punho e usar toda a minha
força de vontade para não soca-la.
No
instante seguinte, estávamos na montanha russa.
Eu
escolhi um dos últimos vagões, na parte mais vazia do trem, na esperança que ninguém
ouvisse o que viria a seguir.
No
entanto...
—
GYAAAAAAAAH! — eu gritei sem parar, em total desespero, preso naquela máquina
mortal de gerar terror. A pequena terrorista mirim, no entanto, parecia estar
estranhamente alegre de estar um triz de ser arremessada contra o chão.
Quando
eu saí daquela coisa, todas as pizzas de Pepperoni que comi na vida estavam se
revirando na minha barriga.
—
Ei, vamos ali agora! — ela apontou e instantaneamente correu em uma direção.
—
Vou morrer... — eu me ajoelhei no chão enquanto as lágrimas escapavam dos meus
olhos.
. . .
Aquela garota conseguiu me arrastar para todos os tipos de brinquedos que
conseguiu imaginar. Me fez comprar pra ela refrigerantes, sorvetes,
algodões-doces... A única parte realmente satisfatória foi quando tive minha
vingança levando ela para a casa do terror. Ela berrava e corria pra todos os
lados, e eu ria tanto que acabei com a barriga doendo e chamando mais atenção
do que gostaria. Impagável.
No fim, ela quis olhar o por do sol do ponto mais alto do parque. Este
era, naturalmente, a roda-gigante.
Em filmes de romance, a roda gigante é o lugar onde os dois protagonistas
geralmente dão seu primeiro beijo... Isso me faz pensar se as pessoas realmente
não vão ter a ideia errada sobre isso.
Eu não gostaria de ser preso com apenas vinte anos.
A roda gigante começou a se mover, e a nos levar para cima. A garota
estava com o rosto colado contra o vidro, enquanto fazia sons que demonstravam
o quanto ela estava impressionada com a vista. Particularmente, não acho isso
algo tão excitante, mas até mesmo eu tenho que admitir que a vista do por do
sol é algo belo de se ver.
—
Você realmente nunca veio num parque de diversões? — eu perguntei, como quem
não quer nada.
—
Não. É a minha primeira vez... — ela mudou de posição, analisando tudo ao seu
redor com aquele olhar curioso que apenas crianças tem. — Você já veio?
—
Sim, algumas vezes, quando era pequeno. — eu olhei para longe como se aquelas
fossem lembranças distantes.
—
Entendi. — ela falou. Quando eu olhei para ela, ela estava com aquele olhar
desolado no rosto mais uma vez.
— O
que foi? — eu perguntei, deixando a preocupação transparecer novamente. Ela apenas
fez um sinal negativo com a cabeça e sorriu para mim, à medida que a roda
gigante começava a descer.
—
Desculpe. Eu realmente me diverti muito.
—
Do que você está falando? — eu perguntei a ela, curioso. Não que eu não tivesse
entendido o que ela disse, mas dizer isso do nada apenas não faz sentido. E
menos sentido ainda fez quando ela apenas me deixou sem resposta, sorrindo para
mim.
A
roda gigante aos poucos foi parando, até que a porta ao nosso lado se abriu. A
garota deu um passo para fora e se virou na minha direção.
—
Eu... — ela mal começou a falar, e seus olhos já estavam cheios de lágrimas. —
Nunca vou poder te agradecer por isso. Mas, essa é a hora de dizer adeus.
— O
que você quer dizer com isso? — a garota me ignorou mais uma vez e deu um passo
para o lado saindo da minha visão. Rapidamente, eu saí de dentro da cabine,
olhando na direção para a qual ela havia ido. — Ei...
Mas,
mesmo que eu procurasse, ela não estava lá.
—
Droga, pra onde ela foi?
Eu
fiz algo que jurei que nunca mais faria e corri naquela direção.
Eu
nem mesmo conheço ela, mas ainda sim eu corri. Eu não tenho nenhuma
responsabilidade por ela, mas ainda assim eu corri. Eu nem sei por que deveria
estar correndo, mas ainda sim eu corri.
Mas
eu também não esperava encontrar o que não deveria.
Na
frente de uma escola primária que me pareceu estranhamente familiar, embora eu
nunca estivesse estado ali, havia um pequeno memorial, do tipo que se coloca
para lembrar de pessoas que morreram em acidentes naquele local.
Fujimoto
Aika.
—
Não pode ser... Não é? — eu olhei o memorial sem acreditar nos meus olhos. Ele
não poderia ter sido colocado ali agora. Na verdade, era mais do que óbvio que
ele já estava ali há muito tempo. Se isto está aqui, quem era aquela garota que
estava comigo esse tempo todo?
Coisas
desse tipo não existem, eu não posso estar considerando que essa é a mesma
Fujimoto Aika que esteve comigo esse tempo inteiro...
Pensando
nisso, aqueles olhares... Eram olhares de estranhamento? Como se eu estivesse
falando com alguém esse tempo todo, mas essa pessoa não estivesse lá?
Droga,
o que está acontecendo aqui!?
Meu
peito apertou. Minhas mãos começaram a suar. Minha respiração acelerou.
Aquela
sensação... É aquela sensação novamente.
A
sensação de perder alguém. A sensação de não poder proteger alguém.
Por que eu tenho que experimentar isso de novo?
Mas que droga...
- Parte Sete -
- Depois do Por do Sol. -
- Depois do Por do Sol. -
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