JisaBaka - Partes 06 e 07



Jisatsu no Otoko to Fumetsu no Baka:

O Homem Suicida e a Eterna Idiota.



Parte Seis  -

A garota abriu os olhos e olhou ao seu redor, se perguntando aonde estava.

Ela se lembrou um instante depois, com um sorriso, ao ver o homem de cabelos negros deitado de uma forma completamente torta sobre a cadeira.

— Acho que já causei problemas demais pra você... — ela falou, enquanto sorrateiramente se esgueirava para fora da cama. A garota continuou e cruzou o caminho até a porta, abrindo com cuidado a maçaneta.

Ela deu uma última olhada para o homem na cadeira, e presenteou-lhe com um sorriso de despedida.

— Bons sonhos. — ela falou, e fechou a porta com cuidado.


. . .


A garota seguiu pelas ruas que conhecia e desconhecia, aventurando-se pelos remotos cantos da cidade, enquanto o sol da manhã gentilmente a iluminava, acompanhado da gentil canção que para ele era cantarolada. Em uma de suas campanhas, ela encontrou um lugar que lhe era familiar.

— Minha escola fica por aqui! — a menina bradou e correu animada naquela direção.

O horário da manhã era sempre muito movimentado. Crianças chegam e se despedem de seus pais, prontas para uma aventura matinal no mundo do saber. Bom, teoricamente. Mas o fato é que uma multidão de garotos e garotas uniformizados, de idades próximas à de Aika, se encontrava acumulada na entrada da escola. A garota procurou por um rosto conhecido e sorriu satisfeita ao encontrar.

— Hana-chan, Kaori-chan! — a garota chamou os dois nomes de duas amigas e acenou. No entanto, elas pareceram não escutar, e apenas adentraram na escola. — Que estranho... — a garota tinha certeza que havia gritado no tom certo.

Do outro lado, ela avistou um garoto, e então pareceu se lembrar de alguma coisa.

— Senjirou-san! Você conseguiu passar daquela fase? — o garoto entrou na escola, bocejando, claramente afetado pelo seu sono matinal. Mas o fato é que, sem dúvidas, ele a havia ignorado. — Senjirou-san? — ela chamou mais uma vez, apenas para ter certeza que ele havia ouvido.

Mas não houve nenhuma reação.

A garota ficou insegura, nervosa. Ela não sabia ao certo por que, mas algo ali estava extremamente errado.

— Alguém! Olhe pra mim! — ela correu de um lado a outro, tentando chamar a atenção das pessoas ao seu redor. Mas ninguém a ouvia. Ninguém nem mesmo olhava em seus olhos. — Por que vocês estão me ignorando? Eu fiz alguma coisa errada? — a garota encheu-se de lágrimas nos olhos, se perguntando qual era sua parcela de culpa em tudo aquilo.

Ela avistou uma mulher adulta caminhando em meio aos outros, e tentou, também, chama-la.

— Professora! Fale comigo! — mas aquela pessoa também a ignorou. A garota foi tomada por lágrimas. "É apenas um pesadelo", ela pensou, enquanto agarrava suas orelhas e as apertava, numa tentativa desesperada de acordar.

Na calçada, do lado de fora da escola, havia um garoto que ela também conhecia. Ele estava acompanhado da mãe dele, e havia deixado uma pequena flor em frente a um memorial, junto com outras flores que lá se encontravam.

O garoto caminhou cabisbaixo, consolado pela mãe, tentando evitar que os outros vissem as lágrimas que se formavam em seus olhos.

— Hiro-kun? — a garotinha levou uma mão ao peito ao vê-lo passar triste daquele jeito. Porém, ele também a ignorou.

A menina deu passos vacilantes em direção ao memorial, e pegou a flor que ali havia sido deixada. Ainda insegura, ela levantou seu rosto, fitando a pedra com cuidado, até que finalmente leu o que estava escrito.

Mas aquilo era mais do que ela poderia suportar.

— Não... Não... — ela deu dois passos para trás, atordoada, indo parar no meio da rua. Foi então que aquelas memórias voltaram.

Uma voz forte, a voz que reconhecia ser a do seu pai, gritou por seu nome, tentando desesperadamente alcança-la e evitar o inevitável.

— Aika! — ele a chamou. Mas quando ela percebeu que aquilo vinha na sua direção, era tarde demais.

Apenas um baque surdo, e então a escuridão.

A garota chorou em desespero, sem conseguir aceitar a realidade. E, embora ninguém pudesse ouvir, tudo o que tomava aquele lugar eram seus gritos e seu choro inconsolável.




Parte Seis  -
- Flor de Despedida.
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Parte Sete  -

Eu abri os olhos lentamente. Levou um tempo até que eu entendesse por que eu havia dormido naquela posição estranha.

Quando eu me levantei, praticamente todos os músculos do meu corpo me pediram pra morrer. Eu instantaneamente sentei de novo, já arrependido do dia de ontem.

Mas isso foi realmente estranho... É como se eu estivesse vivendo na pele de uma outra pessoa... Um sonho, talvez?

Eu me lembrei da pequena garotinha que havia me atormentado no dia de ontem, então virei a cadeira na direção da cama.

Ela estava vazia.

— Ela foi embora sem falar nada? Tsc... — contra os protestos do meu corpo, eu me levantei e abri a porta. Eu não me daria ao trabalho de descer os degraus para checar, mas não teria problema se fosse apenas para espiar a entrada lá de cima.

E lá estava ela. Sentada na entrada do edifício, abraçando as próprias pernas. De alguma forma, aquela garota parecia diferente da garota enérgica e cheia de vida com quem eu havia estado ontem.

Eu nem acredito que vou fazer isso...

Com muito esforço, eu desci cada degrau daquela maldita escada. Mesmo tendo demorado vários minutos no processo, a garota não percebeu a minha presença, então eu tive que chama-la.

— Ei, idiota, o que está fazendo aí? — eu coloquei as mãos nos bolsos e lancei um olhar entediado para ela. Ela levantou o rosto e me olhou nos olhos.

Meus olhos já foram como aqueles. Os olhos de quem havia experimentado uma grande dor.

— O que aconteceu? — minha expressão não conseguiu se manter neutra e impassível como sempre. Mesmo sem entender por que, eu havia ficado preocupado.

A garota se levantou e, contrariando tudo o que havia me passado até então, colocou um sorriso no rosto.

— Não aconteceu nada! E então, o que vamos fazer hoje? — ela falou, embora eu não pudesse acreditar. Realmente não aconteceu nada?

Eu olhei para ela, impotente. Eu não sou um familiar dela nem algo do tipo. Não é como se eu pudesse fazer algo, mesmo se quisesse.

— Ei, não devíamos ligar pros seus pais? Eles com certeza devem estar preocupados.

— Sabe, tem um lugar que eu sempre quis ir! — a garota falou, animada, embora tivesse ignorado o que eu havia dito. — Mas meus pais nunca puderam me levar... Você vai comigo, não é?

— Eh...? — eu fiz cara de idiota enquanto ela estendia para mim um panfleto de um parque de diversões. — Um parque?

— Sim! Vamos lá!  — ela agitou o panfleto ainda mais forte, praticamente esfregando-o na minha cara, e também puxou a manga da minha camisa.

— Seus pais devem estar preocupados... — eu continuaria a falar, mas algo me interrompeu. O olhar da garota havia mudado novamente para aquele olhar tristonho, desolado. Sua mão direita apertando o tecido da minha camisa, com força.

— Por favor.

Eu não sei exatamente o que está acontecendo, mas... Tem algo a mais nos olhos dela. Algo... profundo.

— Tudo bem... Vamos. — eu concordei, me vendo sem saída.


. . .


Isso é de matar...

O sol na verdade acabou escolhendo ficar pior no dia de hoje. Eu acabei fazendo um abanador caseiro com o panfleto que a garota estava carregando, mas ele parecia não estar sendo nada afetivo.

E o pior é que eu nem mesmo me lembro o porque de vir aqui.

— Ei, ei, vamos naquele ali! — a garota apontou um brinquedo no qual um barco subia uma rampa e então descia velozmente em direção a uma poça d'água.

— Hã? Naquele ali? Vamos ficar ensopados! — eu olhei para ela, demonstrando minha total falta de vontade de ir naquele brinquedo.

— Vamos! Eu quero ir! Vamos, vamos! — ela continuou insistindo e insistindo, ao ponto de que eu não pude resistir.

E como o universo indicou, ficamos ensopados.

— Feliz agora? Como vamos nos outros brinquedos desse jeito? — eu a encarei, dando-lhe uma bronca. Ela, no entanto, parecia muito certa do que estava fazendo.

— Você fica reclamando o tempo todo do calor! Além disso, você estava mesmo precisando de um banho. — ela falou, num tom convencido.

— Ora, sua...

— Ei, vamos naquele agora! — ela apontou um outro brinquedo, dessa vez uma montanha russa.

— O que? Nem pensar que eu vou subir naquilo.

— Ah, vamos! Ou você é um covarde? — ela olhou para mim e ameaçou fazer a degenerável dança da galinha.

— Você está brincando com forças que desconhece, mocinha... — eu a ameacei, e tenho certeza que uma veia saltou na minha testa.

— Frangote! — ela ciscou uma vez, me fazendo fechar um punho e usar toda a minha força de vontade para não soca-la.

No instante seguinte, estávamos na montanha russa.

Eu escolhi um dos últimos vagões, na parte mais vazia do trem, na esperança que ninguém ouvisse o que viria a seguir.

No entanto...

— GYAAAAAAAAH! — eu gritei sem parar, em total desespero, preso naquela máquina mortal de gerar terror. A pequena terrorista mirim, no entanto, parecia estar estranhamente alegre de estar um triz de ser arremessada contra o chão.

Quando eu saí daquela coisa, todas as pizzas de Pepperoni que comi na vida estavam se revirando na minha barriga.

— Ei, vamos ali agora! — ela apontou e instantaneamente correu em uma direção.

— Vou morrer... — eu me ajoelhei no chão enquanto as lágrimas escapavam dos meus olhos.


. . .


Aquela garota conseguiu me arrastar para todos os tipos de brinquedos que conseguiu imaginar. Me fez comprar pra ela refrigerantes, sorvetes, algodões-doces... A única parte realmente satisfatória foi quando tive minha vingança levando ela para a casa do terror. Ela berrava e corria pra todos os lados, e eu ria tanto que acabei com a barriga doendo e chamando mais atenção do que gostaria. Impagável.

No fim, ela quis olhar o por do sol do ponto mais alto do parque. Este era, naturalmente, a roda-gigante.

Em filmes de romance, a roda gigante é o lugar onde os dois protagonistas geralmente dão seu primeiro beijo... Isso me faz pensar se as pessoas realmente não vão ter a ideia errada sobre isso.

Eu não gostaria de ser preso com apenas vinte anos.

A roda gigante começou a se mover, e a nos levar para cima. A garota estava com o rosto colado contra o vidro, enquanto fazia sons que demonstravam o quanto ela estava impressionada com a vista. Particularmente, não acho isso algo tão excitante, mas até mesmo eu tenho que admitir que a vista do por do sol é algo belo de se ver.

— Você realmente nunca veio num parque de diversões? — eu perguntei, como quem não quer nada.

— Não. É a minha primeira vez... — ela mudou de posição, analisando tudo ao seu redor com aquele olhar curioso que apenas crianças tem. — Você já veio?

— Sim, algumas vezes, quando era pequeno. — eu olhei para longe como se aquelas fossem lembranças distantes.

— Entendi. — ela falou. Quando eu olhei para ela, ela estava com aquele olhar desolado no rosto mais uma vez.

— O que foi? — eu perguntei, deixando a preocupação transparecer novamente. Ela apenas fez um sinal negativo com a cabeça e sorriu para mim, à medida que a roda gigante começava a descer.

— Desculpe. Eu realmente me diverti muito.

— Do que você está falando? — eu perguntei a ela, curioso. Não que eu não tivesse entendido o que ela disse, mas dizer isso do nada apenas não faz sentido. E menos sentido ainda fez quando ela apenas me deixou sem resposta, sorrindo para mim.

A roda gigante aos poucos foi parando, até que a porta ao nosso lado se abriu. A garota deu um passo para fora e se virou na minha direção.

— Eu... — ela mal começou a falar, e seus olhos já estavam cheios de lágrimas. — Nunca vou poder te agradecer por isso. Mas, essa é a hora de dizer adeus.

— O que você quer dizer com isso? — a garota me ignorou mais uma vez e deu um passo para o lado saindo da minha visão. Rapidamente, eu saí de dentro da cabine, olhando na direção para a qual ela havia ido. — Ei...

Mas, mesmo que eu procurasse, ela não estava lá.

— Droga, pra onde ela foi?

Eu fiz algo que jurei que nunca mais faria e corri naquela direção.

Eu nem mesmo conheço ela, mas ainda sim eu corri. Eu não tenho nenhuma responsabilidade por ela, mas ainda assim eu corri. Eu nem sei por que deveria estar correndo, mas ainda sim eu corri.

Mas eu também não esperava encontrar o que não deveria.

Na frente de uma escola primária que me pareceu estranhamente familiar, embora eu nunca estivesse estado ali, havia um pequeno memorial, do tipo que se coloca para lembrar de pessoas que morreram em acidentes naquele local.

Fujimoto Aika.

— Não pode ser... Não é? — eu olhei o memorial sem acreditar nos meus olhos. Ele não poderia ter sido colocado ali agora. Na verdade, era mais do que óbvio que ele já estava ali há muito tempo. Se isto está aqui, quem era aquela garota que estava comigo esse tempo todo?

Coisas desse tipo não existem, eu não posso estar considerando que essa é a mesma Fujimoto Aika que esteve comigo esse tempo inteiro...

Pensando nisso, aqueles olhares... Eram olhares de estranhamento? Como se eu estivesse falando com alguém esse tempo todo, mas essa pessoa não estivesse lá?

Droga, o que está acontecendo aqui!?

Meu peito apertou. Minhas mãos começaram a suar. Minha respiração acelerou.

Aquela sensação... É aquela sensação novamente.

A sensação de perder alguém. A sensação de não poder proteger alguém.

Por que eu tenho que experimentar isso de novo?

Mas que droga...





Parte Sete  -
- Depois do Por do Sol.
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