Capítulo 05
Eu já havia
mexido em todos os cantos que consegui imaginar desse armário.
Droga, como eu
fui me meter nisso...
. . .
Mais cedo, ainda
hoje...
— Desculpem!
Eu fiz uma
reverência no meio do corredor na frente dos três jovens. Eles olharam como se
achassem aquilo completamente desnecessário.
— E-ei, o que você
está fazendo assim do nada? As pessoas vão achar estranho.
Akakyo comentou.
Eu estava corado por fazer aquilo. Eu fui levantando bem devagar e olhei no
rosto dos três, mas sem conseguir fazer muito contato direto.
— Eu agi muito mal
com vocês ontem, então... Desculpem.
Yuragi deu um
passo a frente e colocou as mãos na cintura. Eu dei um passo para trás como
reflexo.
— Não pense que
vai ser assim tão fácil, perdedor.
Acho que me surpreendi.
Ela se virou de lado e falou de nariz empinado.
— Se você quer
realmente as desculpas de alguém então a conquiste.
O dedo indicador
dela veio parar a milímetros do meu rosto.
— Hoje, na minha
casa. Pode trazer suas armas. Eu vou te derrotar em qualquer jogo, a qualquer
hora e em qualquer lugar.
A atitude dela me
irrita. Eu desviei o dedo com a mão direita e a encarei, determinado.
— Se é isso que
você quer...
Faíscas saltaram
de nossos olhos.
. . .
E agora estou
aqui... Eu tossi um pouco com a poeira. Meu rosto não está nada agradável. Acho
que é melhor desistir e...
Achei!
Eu tirei a fita
adesiva de uma caixa de papelão. Eu finalmente encontrei o que estava procurando.
— Já faz um tempo, amigão...
Eu disse enquanto
fitava o conteúdo da caixa. Eu a fechei e passei no quarto de Shizuka para
avisar que estava saindo. Eu fiz Osakura e Nekogami me esperarem lá fora, eles
já devem estar impacientes com o tanto que os fiz esperar. Eu saí pela porta da
frente e os dois estavam lá, desleixados, olhando para lugar nenhum em
particular.
— Yo!
Nekogami sorriu.
— E então, encontrou?
— Sim. Com isso eu
certamente não serei derrotado!
Eu fechei um
punho no ar. Osakura se exaltou junto comigo.
— Ah cara, eu
estou ansioso pra ver o que é! Se for algo que possa derrotar aquele monstro
com certeza vai valer a pena o ingresso!
— Mas você não
está pagando nada...
—Droga, você entendeu!
Eu sorri ao ver
os dois enérgicos como sempre. Eles me passavam uma aura positiva que não
conseguia me deixar de mau humor. Eu notei algo se aproximando pelas minhas
costas e então me virei. O que me deparei foi com uma garota loira que parou de
caminhar quando eu a percebi.
— Boa tarde,
Makoto.
— Ah, Nana!
Ela se inclinou
um pouco para a esquerda para ver as duas figuras atrás de mim.
— São seus amigos?
Eu olhei pra trás
e vi que os dois estavam completamente eretos e com uma postura tão digna que
foi até estranho ver. Eu suspirei.
— Não, eu não os
conheço.
Eu ouvi a voz de
Kaioshi explodindo num tom baixo atrás de mim.
— Ei, nos
apresente, maldito!
Pelo visto Nana
ouviu e riu baixinho daquilo.
— Bom, o cara de
cabelos ruivos é Nekogami Akakyo.
— Prazer.
Ele levantou a
mão e ela acenou com a cabeça em resposta.
— E o idiota de
cabelos brancos do outro lado é Osakura Kaioshi.
— Sim, esse sou
eu... O que você quer dizer com idiota!?
Ele me deu um
cascudo enquanto me imobilizava com o outro braço. Eu tentei me livrar mas ele
era bem mais forte que eu então a tentativa foi falha. Nanami riu de novo
daquilo e juntou as mãos na alça de uma sacola de compras que eu só havia
notado agora. Ela fez uma pequena reverência e se apresentou.
— Eu sou Suzuyama
Nanami. Amiga de infância do Makoto. É um prazer conhecer vocês. Makoto, eu vou
fazer sopa pro jantar hoje, você gosta?
— Ah, bom...
Sim... Sem problemas.
Eu cocei a cabeça
meio sem jeito. Ela sorriu e abriu a porta com a chave reserva que eu dei a
ela.
— Então vá e se
divirta com seus amigos. Eu estarei aqui quando você voltar.
— Obrigado.
Tchau...
Eu ergui a
mão ela sorriu se despedindo, e depois
fechou a porta. Kaioshi me agarrou pelos ombros e me carregou até o muro do
outro lado da rua, me jogando de costas contra ele.
— Maldito, por que
você esteve escondendo ela esse tempo todo!? Não pode ser, será que... Você é
na verdade um traficante de mulheres que esconde elas na sua casa!?
— Claro que não...
Me solta.
Eu tentei me
livrar mas ele me empurrou de novo. Eu olhei para Nekogami buscando ajuda, mas
ele parecia, incrivelmente, tão interessado naquelas informações quando
Osakura.
— Espere aí, você
está dizendo que ela está fazendo isso por vontade própria!?
— Isso é
óbvio...
— Então... Espere
aí... Por acaso ela é sua esposa?!
Aquilo estourou
minha cota de idiotices e então eu atingi a cabeça dele com meu punho fechado,
num golpe descendente.
— Mas é claro que
não! Eu nem mesmo uso aliança! Você ouviu ela dizendo, não foi? Ela é só minha
amiga de infância.
Osakura levou as
mãos a cabeça. Eu fiquei feliz por aquilo tê-lo calado por algum tempo.
Nekogami olhou pra mim e foi a vez dele de falar. Ele tinha uma expressão
acusadora.
— Então você manteve uma garota bonita assim em segredo
esse tempo todo... E pensar que eu confiei em você...
Eu me controlei
para não atingir Nekogami e causar ao meu punho sofrimento desnecessário. Ao
invés disso eu suspirei e caminhei na direção da casa dele.
— Esqueçam isso.
Vamos andando.
No caminho, algo
me intrigou.
Será que... Eu
estou com ciúmes?
. . .
Não demorou muito
para chegarmos na casa dos Nekogami. Kyo rodou a chave na porta e revelou o
interior da casa. Lá estava ela, minha inimiga, minha rival. Ela já tinha
trocado de roupa e vestia uma camisa larga desleixada de algum time de
baseball, que era o bastante para cobrir o short que imaginei que ela estivesse
usando. Ela também usava um boné pra trás e na boca carregava um palito de
dente. Se ela fosse uma criança eu diria que ela parecia filha de um pai que
queria muito ter um garoto.
Ela sorriu sarcasticamente
ao me ver. Minha expressão estava séria como se aquilo fosse a final de alguma
coisa importante.
— Com licença.
Eu falei num tom
convencido e entrei na casa. Me sentei na frente da televisão e abri a caixa,
revelando seu conteúdo. Todos se aproximaram curiosos. Kaioshi falou, seguido
por Akakyo.
— Isso é...
— Não pode ser...
Yuragi fez uma
cara nojenta de desprezo.
— Mas que velharia
é essa?
— Isso é um zMez!
Osakura retirou o
console da caixa e examinou. Ele estava um pouco acabado, ja que é da época que
eu era muito pequeno. Eu, Shizuka e Nanami jogávamos de vez em quando. Eu
lembro que preferíamos fazer outras coisas, por que elas eram muito ruins e eu
não gostava de jogar com elas. Não, na verdade, acho que era o contrário. Haha,
eu era bem reclamão naquela época... Acho que tivemos boas brigas por causa dos
jogos. Desde que Shizuka ficou doente eu não tive tempo pra jogar, mas... Se é
algo que eu jogava naquela época eu estou confiante que posso derrotar mesmo um
monstro!
Nós retiramos os
fios e montamos o console na televisão. Eu e minha oponente nos sentamos nos
sofá, enquanto os outros dois sentaram um de cada lado, no chão, olhando pra
tela como crianças hipnotizadas. O jogo que estava lá era Mega Lario Land, um
jogo onde um eletricista podia pular sobre a cabeça de monstros para
derrota-los e salvar a fada da terra dos doces das mãos do terrível feiticeiro.
Era um jogo bem infantil e com gráficos antigos, mas ela disse claramente que
me derrotaria em qualquer jogo. Nós nos olhamos, antes de apertar o start.
— O método vai ser
'Time Attack'. Quem terminar o primeiro mundo em menos tempo vence. Você tem um
cronômetro?
— Eu tenho!
Akakyo deu um
sorriso bobo com um cronômetro em mãos. Isso foi incrivelmente conveniente. Eu
sorri.
— Cuidado, moça.
Você está em território inimigo agora.
— Isso quer dizer
que eu só preciso conquista-lo, não é?
Ela parecia
confiante apesar de tudo. Eu apertei o start e Akakyo fez o mesmo com seu cronômetro.
Eu demorei bem mais do que deveria na primeira fase. Meu cérebro demorou um
pouco para relembrar os comandos e os atalhos que eu deveria pegar. Eu percebi
que ela estava prestando atenção em tudo que deveria fazer na vez dela. Eu tive
certeza de pegar os caminhos mais difíceis que achei que ela não iria
conseguir. Na penúltima fase do primeiro mundo havia um lugar onde você poderia
pegar um super bônus se pudesse saltar por cima de uma grande distância. Boosts
de velocidade, montaria, super salto, tudo bem... Eu tenho tudo, vamos lá!
Eu arrisquei um
salto no tempo que achei que seria o correto e vi meu personagem voar para
pegar o super bônus. Eu ouvi um 'oh!', vindo dos dois rapazes quando viram o
salto, e eu comemorei silenciosamente quando obtive o bônus que queria para
enfrentar o chefão na última fase. Eu consegui derrotar ele sem problemas no
menor tempo possível, obtendo um rank 5 estrelas quando terminei o mundo. Eu
cocei o nariz. Acho que ainda tenho o jeito.
— E então, pode
fazer melhor?
Pela primeira vez
eu senti que ela ficou abalada. Nós olhamos para o cronômetro. 18 minutos e 37
segundos. Osakura assoviou com o tempo. Nós resetamos o console e então foi a
vez dela de dentar. Ela fechou os olhos para se concentrar antes. Após um ou
dois segundos, ela abriu eles determinada e apertou o play.
O que se sucedeu
disso foi, com toda certeza, uma das vezes que eu mais ri em toda a minha vida.
Ela conseguiu se sair ainda pior do que uma criança completamente iniciante. Ao
invés de ir pelo caminho convencional ela teimou em ir pelos mesmos caminhos
que eu fui. O resultado disso foi que na primeira fase ela já havia perdido
todas as suas vidas, e também três pessoas quase sem ar nos pulmões. Kyo se
debruçava sobre o sofá enquanto o martelava com uma série de socos surdos. Kai
estava deitado no chão com os braços sobre os olhos. Eu estava de joelhos com
as mãos na barriga. Derrubei o controle mas não me importei com isso. A garota
se levantou numa rajada de fúria e jogou o controle na cabeça do irmão, que
parou de rir por um momento para protestar contra a dor.
— Calem a boca,
vocês são uns idiotas!!
Ela estava
corando de uma forma a ficar quase da cor dos seus cabelos. Eu parei um pouco
para escutar as lágrimas e ouvi a porta se abrir. Eu lembrei da figura do velho
que vi da última vez. Ele entrou e olhou para os 4 jovens alojados na sala da
casa dele.
— Ora ora, pelo
visto estamos tendo uma festa aqui, não é?
Akakyo ainda não
conseguia tirar o sorriso do rosto.
— Ah, você chegou,
vovô.
— Vocês parecem
estar se divertindo...
Ele olhou um
pouco para o ambiente e depois diretamente para mim.
— Ei, você, de
cabelo castanho. Venha cá. Preciso de sua ajuda.
— Hm?
Eu fiquei um
pouco surpreso. Mas eu estava na casa dele e não iria me recusar a ajudar. Eu
me levantei e então fui na direção dele. Yuragi bateu com a mão na madeira do
piso.
— Ei, onde você
pensa que está indo!? Nosso duelo ainda não acabou!
— Ah... Não se
preocupe, eu estou bem com meu recorde atual, se você conseguir chegar perto
dele me avise.
Eu tive certeza
de colocar um tom irônico que atingiu o objetivo de irrita-la. Ela se dobrou na
direção do console e o resetou, começando um novo jogo com uma expressão de
raiva na face.
— E então, no que
você queria que eu aju... dasse...
Cara de bunda.
Isso definiu muito bem a minha cara quando eu vi a quantidade de sacolas do
lado de fora.
— Como o senhor
conseguiu trazer tudo isso sozinho?
— Ah, bom... Eu
fiz um casal de funcionários da loja trazerem até aqui.
Eu pude imaginar
os dois funcionários trazendo isso sobrecarregados todo o caminho...
Coitados...
— Você pode me
ajudar a levar tudo lá pra dentro?
Eu cocei um pouco
a cabeça. Não tinha problema com isso mas tem algo que quero saber...
— Por que pediu
pra mim?
— Você é o meu
amigo preferido dos meus netos. Aquele outro é um idiota.
— Bom, eu não
posso discordar.
Satisfeito com a
resposta, eu peguei algumas sacolas e comecei a levar lá pra dentro. Eu
precisaria de pelo menos 4 viagens pra levar aquilo tudo, e isso só me fez
sentir mais pena dos probres funcionários. Eu decidi pedir a ajuda de Osakura.
— Ei, Osakura. Vá
lá fora, estamos precisando de ajuda.
— Hm? Ok...
Ele se levantou
no mesmo tempo que eu ouvi o som de Yuragi morrendo novamente. Ela gritou e
bateu as pernas em frustração, como uma criança.
— Você passou na
minha frente, retardado!
— Hã? Do que você
está falando, eu só me levantei!
— Droga, passa
logo!
— Ai, ai!
Ela começou a
chuta-lo e ele se apressou para ir até lá fora. Eu pude ouvir as vozes deles de
longe enquanto ia na direção da cozinha.
— O que houve?
— Desculpe pelo
incômodo. Mas um rapaz forte como você não vai ter problemas em carregar isto
não é?
— Sem problemas,
mas eu não sou realmente tão forte assim.
— É sim! E não
conte isso ao outro mas você é meu amigo predileto dos meus netos.
— Ah, que isso!
Hahaha!
Eu fui enganado.
Mesmo frustrado
eu deixei as compras num lugar que me pareceu apropriado. Na volta eu cruzei
com Kai e o velho, que sorriu pra mim. Eu sorri torto pra ele de volta. Aquele
sorriso me pareceu extremamente irônico. Nós terminamos o trabalho em pouco
tempo, e ficamos por ali, de bobeira, conversando enquanto víamos de camarote
as suscetíveis derrotas de Yuragi. Como resultado, ela acabou ficando me
devendo um lanche completo.
Ah, amanhã será
um dia glorioso.
. . .
Eu me despedi do
pessoal no fim da tarde e fui pra casa. No fim das contas, Yuragi conseguiu
chegar apenas até o terceiro nível, continuando teimosa em tomar os mesmos
caminhos que eu. Osakura resolveu ficar até um pouco mais tarde então também
não me acompanhou até em casa. Como de costume, eu fui recebido com um sorriso
caloroso. Não passou muito tempo e eu levei Nana até a casa dela, dessa vez um
pouco mais cedo que o normal.
— Então, eu e a
Shizu-chan...
Eu escutei
atentamente tudo que ela tinha pra dizer. E foram muitas coisas. Primeiro eu
acho que não entendia por que a Nana era tão boa pra nós, mas ela parecia se
divertir com a Onee-chan... Eu estou começando a achar que aqueles dias felizes
podem voltar novamente.
Naquela época...
. . .
— Quase lá...
Quase lá...
Eu estava
concentrado jogando no zMez, um jogo simples de coletar ouro e conseguir
pontos. Quanto mais avançado ficavam os níveis, surgiam bombas e alguns outros obstáculos
na frente do meu personagem, e o jogo também ficava mais depressa. Eu estava no
nível 39, se eu alcançasse o 40 eu iria finalmente bater o recorde...
— Conseguiu!
— Isso!
Nana juntou as
mãos maravilhada com aquilo. Eu ergui o punho esquerdo em comemoração pro teto
e Shizuka bufou as bochechas emburrada. Eu tinha batido a melhor pontuação dela
e aquilo não tinha deixado ela nada feliz.
— Me dá isso, eu
posso fazer melhor!
— Ei, o que você
está fazendo? Para!
Nana balançou os braços
totalmente sem saber o que fazer.
— Me dá o
controle..!
— Solta, ei..!
Você vai me fazer morrer!
Naquele momento
eu pude ouvir o som de uma bomba explodindo no jogo. Meu personagem voou para
fora da tela e então caiu, dando espaço para o símbolo de Game Over. Shizuka
largou o controle e virou o rosto pro lado. Eu apertei o controle com força e
então voei para apertar as bochechas dela.
— Ora, sua!
— Ai, para com
isso!
Nós caímos no
chão e começamos a rolar com ela tentando se livrar dos meus beliscões. Nana
ficou com os olhos cheios d'água. Ela sempre foi uma chorona. Ela me agarrou
pelos ombros e começou a me puxar.
— Parem com
isso... Vocês dois...!
Foi uma chance
pra Shizuka. Eu bobeei com o pedido de Nanami. Que erro. Shizuka voou na minha
orelha e me mordeu.
Meu grito de dor
ecoou por toda a vizinhança.
Segundos depois
meu pai apareceu da cozinha com um avental rosa. Ele possuía cabelos brancos
iguais os da minha irmã, mas os olhos dele eram iguais aos meus.
— O que está
havendo aqui?
— Nada.
Eu e Shizuka
respondemos juntos e nos olhamos, virando o rosto em seguida. A cena que meu
pai viu foi uma Shizuka com bochechas vermelhas e um Makoto com uma orelha
maior que o rosto. Nanami estava envergonhada então escondeu o rosto atrás de
uma almofada. Meu pai sorriu.
— Os hambúrgueres
vão ficar prontos logo.
E realmente não
demorou. Alguns minutos depois começamos a comer juntos e a rir quando Nanami
se melou com Ketchup. Meu pai tinha acabado de chegar para comer com a gente
quando isso aconteceu e isso fez ela ficar muito vermelha. Nós rimos mais. Sem
perceber já tínhamos feito as pazes. Era assim que era naquela época. Tudo ia e
vinha muito fácil. Eram momentos onde não precisávamos nos preocupar com nada e
não tínhamos responsabilidades... E éramos muito felizes.
Meu pai era uma
pessoa muito gentil e todos gostavam dele. Ele não tinha um emprego fixo e
sempre trabalhava fazendo alguns bicos. Minha mãe era formada em biologia e
trabalhava como pesquisadora e professora. Ela não passava tanto tempo em casa
quanto meu pai e era mandona. Meu pai nunca se metia quando ela brigava ou
tinha ataques de raiva. Ele sempre sorria de um jeito gentil que acalmava a
mamãe. Ela tinha cabelos castanhos mais escuros que os meus e olhos azuis muito
bonitos. O corpo dela era muito bonito também, e ela era muito jovem. Apesar de
ser um pouco esquentada eu sei que ela nos amava muito. As pessoas pareciam
respeitar muito ela e elogiar o quanto era inteligente...
Mas...
Mesmo eles sendo
pessoas tão boas, o destino não se importou. Os dois foram tirados de mim
naquele acidente... O médico que eles estavam trazendo morreu também. Tenho
certeza que era uma pessoa ótima... Eu revirava aquela notícia no jornal e meu
coração sempre doía. E a condição de Shizuka piorando... Eu estive a ponto de
perder a mim mesmo. Mas eu tinha que ser forte por nós dois.
. . .
Mesmo separados
nós mantivemos nossos laços. E acho que foi isso que me fez pensar que podemos
voltar aquela época feliz que tínhamos.
— Ei... Makoto.
— Hm?
Eu acordei do meu
transe habitual com a voz doce da garota loira atrás de mim. Ela havia parado
de caminhar por alguma razão.
— Nós chegamos.
— Ah, entendo...
Ela disse aquilo
com um sorriso compreensivo e eu olhei para a casa dela. O jardim era muito
bonito. A mãe dela sempre cuidou muito bem do jardim, era o hobbie dela. Nana
subiu as escadinhas da casa e abriu a porta.
— Estou em casa!
Ela falou com uma
voz animada e fez um gesto convidativo com a cabeça.
— Hoje você está
livre um pouco não é? Minha mãe quer
muito conversar com você.
Aquele sorriso e
as mãos atrás das costas me fizeram pensar no quão delicada ela continuou mesmo
com o passar dos anos. Eu dei um sorriso meio envergonhado e entrei, falando
baixinho pra não incomodar.
— Com licença...
A mãe de Nana
apareceu com um avental e uma vassoura em mãos. Ela era uma mulher de meia
idade com algumas marcas de expressão, e usava um cabelo loiro acima dos
ombros. Seus olhos eram castanhos e seu rosto passava experiência e ternura.
— Bem vinda. Ah,
Makoto-kun, você veio! Desculpe pelo estado da casa, está uma bagunça!
Ela ficou um
pouco envergonhada. Eu também corei.
— Não mesmo! Está
tudo muito arrumado, a senhora sempre foi muito organizada, Suzuyama-san.
Ela levou a mão
ao rosto corado e sorriu gentilmente.
— Ora, Makoto-kun,
você se tornou um rapaz educado.
Eu me lembrei de
como eu era agitado e bagunceiro naquela época. Envergonhado pelos problemas
que já causei eu desviei o olhar e cocei o rosto.
— Que nada...
— Ah, já sei! Eu
vou preparar um chá. Por favor, sente-se!
Ela entrou na
direção do que imaginei ser a cozinha. Pela primeira vez notei que Nanami tinha
nos deixado e estava provavelmente no quarto dela, guardando as coisas. Eu
sentei ao redor da pequena mesa na sala de estar e esperei pacientemente
enquanto observava o cenário. A casa era simples e muito bem decorada. O chão
feito de madeira estava geladinho e era uma sensação gostosa nos pés. Eu podia
ver algumas fotos de família em cima das bancadas. Nelas eu via Nanami com
várias idades junto com o pai e a mãe, e também uma do casamento deles. Elas
pareciam seguir uma ordem cronológica, e numa das últimas eu jurei que via a
imagem de uma criancinha. Eu estiquei o pescoço pra tentar ver melhor.
Ai!
Nesse momento fui
atingido por algum objeto redondo na cabeça.
Eu olhei pra trás e vi a figura de uma pequena garotinha que devia ter
uns 3 anos. Ela tinha cabelos loiros que nem chegavam aos ombros e olhos
castanhos ameaçadores. Na mão esquerda havia um coelhinho marrom quase do
tamanho dela. Era uma visão fofa e ela ficava toda vermelhinha com aquela cara.
Eu sorri e tentei ser amigável.
— Olá. Como é seu
nome?
— Ataque do
coelho!
Eu fui surpreendido
por um coelho que foi atirado na minha cara com força. Na verdade foi um golpe
corpo a corpo, por que a garotinha estava enterrando a pelúcia na minha cara.
Eu comecei a balbuciar coisas impronunciáveis tentando fazer a garotinha parar
sem tocar nela. Quando eu já estava começando a ficar sem ar e prestes a tomar
uma providência a voz calma da minha amiga de infância ecoou pela sala.
— Vamos, Airi, pare
com isso.
Ela levantou a
garotinha pelos braços, fechando um abraço que a sustentava no ar. O abraço de
urso foi seguido de um beijinho na bochecha.
— Onee-chan! Quem
é esse garoto? Ah!! Ele pegou o Mr. Coelho!
O coelho de
pelúcia acabou indo parar no meu colo no fim das contas. Ela se livrou do
abraço e eu ergui o coelho na direção dela. Ele foi tomado com força da minha
mão e a garotinha fez uma cara emburrada e foi se afastando. Um pouco antes de
sumir da minha vista ela se virou e apontou o dedo na direção do meu rosto.
— Eu odeio você!
Se você aparecer aqui de novo não te perdoarei!
Essa fala foi
seguida pelo som de uma porta batendo. Eu suspirei e então olhei para Nanami,
que agora estava usando uma roupa mais casual mas ainda assim arrumada,
provavelmente por que eu estava lá. Ela se sentou e a medida que ela se sentava
eu a observava boquiaberto. Ela era minha amiga de infância mas tenho que
admitir que ela se tornou uma garota extremamente linda...
— Ela é minha
irmãzinha, Airi. Acho que eu ainda não tinha te falado dela.
Eu me concentrei
novamente na vida real.
— É, acho que
não... Ela é bem agitada, não é?
— Não, ela
geralmente não é tão ruim.
— Então por que
ela me odeia?
— Acho que ela só
está com ciúmes.
— Mas por que ela
teria ciúmes?
Uma voz diferente
respondeu.
— É natural que
ela tenha ciúmes, afinal você é o primeiro namorado da Nana desde que a Airi
nasceu.
Namorado...
Namorado... Namorado...
Nós dois coramos
a ponto de explodir e falamos coisas que se confundiram ao serem ditas ao mesmo
tempo.
— D-do q-que você
está falando, Suzuyama-san?
— Mãe! Não somos nada disso, não me mate de vergonha!
— Mãe! Não somos nada disso, não me mate de vergonha!
— Ora, eu estou
errada? Me perdoem!
Ela colocou o chá
na mesa e eu peguei imediatamente para beber. A verdade é que eu só queria uma
desculpa pra cobrir a cara e manter a boca fechada. Eu bebi metade e botei o
copo na mesa.
Estava
absurdamente quente.
Após alguns
segundos para recuperar o folego, a mulher já estava sentada para beber
conosco. Continuamos em silêncio por um tempo e eu aproveitei para olhar
novamente as fotos de família. O que me lembra.
— Cadê seu pai?
— Papai está numa
viagem de negócios. Ele vai voltar daqui a alguns dias, mas ele queria te ver
também.
— Entendi.
A mãe dela
aproveitou pra me perguntar algo dessa vez.
— Então, Makoto-chan, como vai a Shizu-chan?
Ela mudou o modo
como me chamou. Provavelmente me vê agora um pouco como quando eu era menor.
— Ela vai bem. Ela
é muito forte.
— E você está
conseguindo acompanhar a escola?
— Sim, graças à
Nana.
Eu olhei pra ela
e sorrimos um pro outro. Você é incrível...
— Mas você não
está tendo problemas na escola por causa disso, não é?
— Não, eu...
— Não! Na verdade
você está ajudando Nanami, embora não saiba.
— Ajudando? Como
assim?
— Ela quer ir pra
universidade de medicina em Tóquio.
— Eh...
Agora tudo faz
sentido. Isso explica a disponibilidade e velocidade com que ela aprendeu a
cuidar de Shizuka.
— Você consegue,
Nana. Vai ser ótimo se você puder fazer pelos outros o que você faz pela
Onee-chan. Você é realmente uma pessoa incrível.
Ela corou e não
conseguiu mais me olhar nos olhos. Eu sorri.
— Ora, Nanami! É
um elogio do seu namorado, você deveria agradecer!
De novo essa palavra...
— Não, nós não
somos...
— Não somos isso!
Nunca, nunquinha! Aah, mãe, pare de me matar de vergonha!
— Ora, estou
errada? Me perdoem!
Ela encobriu
minha fala com a dela.
Você não
precisava ser tão enfática...
. . .
Nós continuamos
conversando por um tempo e acabou dando minha hora de ir embora. Era a mesma
hora que eu deixava Nanami todos os dias aqui, então já estava acostumado a
voltar nesse horário. Eu me despedi de todos menos da garotinha que acabou por
não aparecer mais na minha frente naquele dia. Pensando bem ela era mesmo excêntrica,
haha... Eu comecei a fazer o caminho
habitual para casa. No meio do caminho parei.
— Acho que hoje
vou ter que chegar alguns minutos mais tarde em casa...
Eu me virei e
comecei a contornar a próxima rua que eu teria que tomar.
Durante todo o
caminho pra casa, eu amaldiçoei aquele desvio.
Mas que droga...
. . .
Eu cheguei em
casa sem maiores problemas. Shizuka dormiu bem cedo naquela noite, então eu
aproveitei para dormir cedo também. No dia seguinte, preparei um café da manhã
pra nós dois e conversei um pouco com ela antes de ir para a escola. Ela
parecia ter amanhecido bem feliz. Ela parecia assim toda vez que Nanami vinha
cuidar dela. Eu estou quase sentindo ciúmes. Mas acho que isso a fazia
ter sonhos bons e por isso ela acordava assim. A manhã me deixou animado e eu
fui para a escola de bom humor. O primeiro período era de história geral, um
dos assuntos que eu gosto. Eu continuei assistindo as aulas a medida que os períodos
passavam. Um pouco antes do período do almoço decidi que seria uma boa hora
para sair e ir ver como a Onee-chan estava. Alguns olhares acusadores se
voltaram contra mim quando eu saí da sala mas eu os ignorei. Estava ficando
cada vez mais fácil fazer isso.
Corredor após
corredor, eu estava quase na saída da escola. Um pouco antes disso, senti algo
pequeno me acertar. Uma bolinha de papel? Quando olhei na direção, lá estava a
garota ruiva com um rosto de poucos amigos. Ela descruzou os braços e se
aproximou de mim.
— Matando aula,
garoto?
A atitude dela me
pareceu convencida como sempre. Vou brincar um pouco.
— Garoto? O que
houve com perdedor? Ah, é mesmo...
Ela torceu os
lábios e empurrou um saquinho de papel contra meu peito.
— Toma aqui. Agora
estamos quites.
Pelo cheiro era
um sanduíche de maionese. Era o lanche que eu tinha ganhado ontem. Eu não podia
comer ali e agora, então eu tinha que dar um jeito de contornar isso...
— Eu não quero
isso. O combinado foi um lanche completo, compre um suco pra acompanhar.
Empurrei o
sanduiche pra ela de novo. O olhar que recebi foi ameaçador, mas não deixei ela
notar que tinha me intimidado. Simplesmente passei por ela com as mãos nos
bolsos e uma expressão confiante.
— Ei! Onde você
pensa que vai?
Eu parei de
caminhar, olhando prum ponto fixo no chão. Por favor, não pergunte... Eu não
quero que vocês se preocupem... Nós acabamos de nos conhecer. Eu não me sinto
bem pra mostrar esse lado de mim ainda, então...
Por favor, não
pergunte.
— Isso não é da
conta dos perdedores.
Eu disse e olhei
pra ela de lado com um sorriso. Depois disso apressei o passo e me distanciei
até ter certeza que ela não me via mais.
Antes que eu
conseguisse isso, eu ouvi ela me chamando mais uma vez, mas não parei.
Por favor, não
pergunte de novo...
. . .
— Aah.
Eu fiz o som com
a boca e Shizuka abriu ela para que eu pudesse fazer um 'aviãozinho' com a
colher. Hoje eu tinha feito macarrão, um prato que me orgulhava de ser minha
especialidade. Eu cozinhava ele bastante para ele ficar bem mole, já que
Shizuka não conseguia comer coisas muito duras. Ela me pareceu bastante
satisfeita e eu soube que meu prato estava sendo um sucesso.
— Aqui.
Com a mão direita
eu sustentei o copo de suco de limão e com a esquerda impedi que as gotas
melassem a cama. Ela bebeu devagar e seus olhos estavam cheios de lágrimas
quando eu afastei o copo. Eu ri. Suco de limão era o sabor favorito dela,
justamente por essa sensação amarga e doce que ele deixa ao mesmo tempo. Eu
sempre lembrava dela dizendo isso quando era menor.
Eu não queria ter que esconder você. Você é
maravilhosa, um anjo. Eu toquei na mão dela. Ela me olhou com aqueles lindos
olhos azuis. Os olhos mais profundos que já vi. Ela parecia me entender perfeitamente
mesmo que eu não tenha dito nada daquilo pra ela. Era como se ela pudesse ver
dentro do meu coração.
Ou será que sou
eu que estou vendo meu reflexo naqueles olhos?
. . .
— Bom, eu tenho
que ir.
Eu ajeitei ela na
cama e levei as coisas para a pia. Voltei pra dar um beijinho na testa dela e
fui depressa até a escola. Consegui chegar a tempo para o fim do almoço. Onde
está aquela garota com meu lanche? Eu não consegui encontra-la então acabei
tendo que comprar alguma sobra da lanchonete. Enquanto procurava um lugar bom
para comer, encontrei com Akakyo e Kaioshi encostados numa parede. Eles
acenaram pra mim e eu acenei de volta.
— Onde está sua
irmã?
Eu me voltei para
Akakyo. Ele apenas sorriu como se estivesse lembrando de algo e Osakura foi
quem falou.
— Ela parecia com
muita raiva por algum motivo. Ela jogou um saco de papel com força no lixo e
disse 'eu não devia ter feito essa porcaria'... Depois disso ela foi embora te
chamando de vários nomes. Foi uma cena bastante esquisita.
Eu olhei para uma
lata de lixo sem muitos motivos. Claro que não devia ser aquela mas eu consegui
imaginar a ruiva com raiva jogando o sanduíche ali. É claro! Não estávamos no
horário do almoço ainda, então ela não podia ter conseguido aquilo na
lanchonete... Então ela fez pra mim? Nekogami pareceu entender o que eu estava
pensando e tocou meu ombro em suporte.
— Não se preocupe,
nem era grande coisa, ela só fez juntar as primeiras coisas que encontrou
dentro de um pedaço de pão. Não esquente com isso.
— Sim... Você está
certo.
Eu disfarcei um
sorriso mas acabei me sentindo muito mal por aquilo. Eu não gosto de ferir os
sentimentos dos outros mesmo que seja por alguma besteira. Talvez seja
perfeccionismo demais, mas... Eu apenas não me sinto bem.
O sinal tocou
logo depois que eu falei.
— Oh, está na
hora. Takahashi-sensei vai nos trucidar se chegarmos atrasados de novo.
O alvo concordou
com o ruivo.
— Não é? A gente
se vê, Makoto.
— Sim!
Akakyo levantou a
mão em despedida e eu fiquei olhando enquanto os dois se perdiam na multidão.
Eu olhei para o sanduíche de presunto meio comido na minha mão.
Acho que perdi a
fome.
. . .
O dia terminou
sem grandes acontecimentos. O sinal da liberdade tocou e eu esperei a multidão
que se digladiava na saída da sala se dissipar. Depois de uns minutos eu me
levantei e comecei a ir embora. Embora eu tenha procurado o pessoal para me
despedir eu acabei não os encontrando em lugar nenhum. Que estranho... Eu olhei
pro céu. Algumas nuvens escuras estavam começando a se concentrar. Resolvi me
apressar para chegar em casa. Mas, sem eu saber, um plano estava sendo
arquitetado.
. . .
— Ele sempre sai assim do nada?
— É, as vezes... Achamos que ele matasse aula
mas parece que não é bem isso...
— E vocês não acham isso suspeito?
— Hum, bom... Acho que ele deve ter os motivos dele.
— Ei, Yuragi, você não está levando isso a sério demais?
— Claro que não, Akakyo! Não podemos ficar sem saber uma coisa dessas!
— Acho que você só está curiosa demais...
— Droga, calem a boca! Vocês não precisam vir se não quiserem. Eu vou
segui-lo.
— Ele provavelmente apenas vai pra casa, do que seguir ele ia adiantar?
— Não vamos saber até tentarmos não é, seu tapado de cabelo branco?
Passos.
— Nós realmente não devíamos estar fazendo isso...
— Shh! Silêncio, não deixe ele nos ouvir.
— Viu? Ele só está entrando em casa!
— Vamos dar a volta e ver o que ele está escondendo lá dentro.
— Yuragi, isso já foi longe demais! Vai chover, vamos achar um lugar pra
ficar.
— Me largue, Akakyo-chorão! Você veio por que quis, não foi?
— Não use esse apelido...
— Aqui, essa janela está meio aberta, podemos olhar e...
— Quem é aquela garota?
— Eh... Ela é bonita... Será que ela é a irmã dele?
— No que você já está pensando, Kai?
— Em nada, eu juro...
— Ei, garotos, não é estranho? Ela não se meche. É como se ele estivesse
tendo que mexer as mãos dela pra ela...
— O que é aquilo?
— Parece uma cadeira de rodas... Ele está colocando ela lá?
Silêncio.
Um trovão ressoou ao longe.
Ainda assim a gota d'água que caiu na janela ecoou mais alto.
. . .
Eu olhei para a
janela para ver o estado da chuva, atraído por aquela pequena gota d'água.
Shizuka tem medo de trovões, então queria leva-la para a sala e ligar a tv alto
para que ela não ouvisse... Foi então que eu vi os três olhares fixos em mim
através do vidro. Minha boca se abriu involuntariamente e minhas pernas
tremeram. Os três pareciam que começavam a compreender a situação. A chuva
ficou mais forte e um trovão rugiu mais alto. Shizuka estava de costas e não
podia ver o que eu via, mas eu podia ver tudo. Ela fechou os olhos com medo do
trovão. As três figuras começavam a ficar encharcadas pela chuva enquanto me
olhavam com apenas um sentimento: Pena.
Era tudo o que eu
menos queria... Não deveria ser assim.
Droga...
. . .
Chiharu - 05
Por favor não pergunte.
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