Este é o capítulo 3 do segundo volume de Sypher! Para os capítulos anteriores, acesse a PÁGINA DO PROJETO
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Quem Você Quer que Seja
Parte 1:
“Ei,
você está bem?”
Uma
voz? Não a reconheço...
Onde
eu estou? Está tão... escuro.
“Ei,
cê tá me vendo?” Perguntou a voz.
Eu
não consigo enxergar. Sinto que estou com os olhos abertos, mas tudo
permanece... escuro.
“Onde
estou? Quem é você? Onde você está?” Perguntei, o desespero começava a tomar
conta de mim.
“Uou,
calma! Eu estou na sua frente, não vê?”
“...”
“Respondendo
às suas outras perguntas, você está no United Center, um dos poucos lugares em
Chicago que não foi completamente destruído. Ah, meu nome é Júlia, prazer...”
“Sypher,
me chame apenas de Sypher.” Respondi-a enquanto procurava por algum tipo de
apoio.
Droga,
o que aquela mulher fez? Ela me perfurou como se eu fosse papel. Era para eu
estar morto agora, mas eu me sinto mais vivo do que antes. Aparentemente ela
tirou minha visão... entretanto eu não consigo me incomodar com isso, é como se
eu sempre tivesse sido cego, e nem ao menos ligasse para isso...
“...Certo,
Sypher. Prazer em conhecê-lo.” Disse ela, entusiasmada.
“Júlia,
certo? Como eu vim parar aqui? Você viu mais alguém comigo? Uma garota?”
“Eu
não vi nada, quem viu tudo foi o grandão do meu lado, não é, Carlos?”
Então
tem mais alguém com ela. Uma voz grossa e potente chegou aos meus ouvidos.
“Eu
tinha acabado de chegar na frente do United Center, estava voltando de uma
ronda. Te encontrei deitado no chão, eu apenas te trouxe aqui pra dentro.”
Merda,
ele não viu mais ninguém. Onde foi parar todo mundo? Eles não podem ter simplesmente
morrido, não, me recuso a acreditar.
“Você
lembra de algo antes de perder a consciência?” Perguntou Júlia.
Lembro
de tudo. Lembro do meu fracasso, da minha inutilidade, da minha incapacidade.
“...”
Permaneci em silêncio, ouvindo o vento assoviar por entre os corredores do
United Center. Júlia pergunta:
“Aparentemente
não quer falar sobre o que aconteceu, mas pelo menos sabe o que vai fazer à
partir de agora?”
“Não.
Minha cabeça dói, estou cego, e mal consigo me levantar. Me diga, quais são as
chances de eu ter alguma ideia do que fazer?”
Aposto
que ela deve estar fazendo uma cara de reprovação devido ao meu comentário.
“Creio
que você pode ficar com a gente, pelo menos até se recuperar.” Carlos disse
enquanto colocava sua mão em meu ombro.
Eu
não tenho tempo pra isso! Eu preciso encontrar os outros. Se eu ao menos pud–
[EXPLOSÃO]
“Mas
que porra é essa?!”
Logo
após a explosão, era possível ouvir diversas vozes, mas nenhuma delas pareciam
carregar o peso de um anjo, muito menos de um demônio–– eram pessoas.
“Júlia~,
onde está você, minha querida? Só quero pegar o que você roubou~”
Júlia
começou a sussurrar com uma voz trêmula.
“Merda,
Carlos! Você disse que eles estavam longe daqui!”
“M-mas
eles estavam! Isso não faz sentido algum!”
Ainda
fraco devido à experiência de quase morte – ou morte total – peguei uma barra
de ferro e a usei como apoio. Até mesmo com a ajuda de um apoio era difícil se
locomover, porém a situação não permitia que eu ficasse parado. Assim que Júlia
percebeu meus movimentos, exclamou:
“Ei,
ei! Para onde você vai?!”
“Sair
daqui, afinal não tenho nada a ver com isso.”
“Uou,
espera, cara! Se você der de cara com esses malucos, você será um homem morto.”
Disse Carlos.
Virei
o rosto em direção ao Carlos.
“Tanto
faz, eu já estou morto mesmo.”
Parte 2:
Ei,
Sypher, onde você vai?
Eu
preciso sair desse lugar, porém, como? Não consigo ver nada, e não é como se eu
conhecesse cada milímetro do United Center. Assim que encontrei a porta, a abri
e deixei a sala em que acordei.
Cheiro
de carne podre, zumbido de moscas. Provavelmente uma cena horrível, a qual fui
poupado. Minha cabeça continua latejando, e minhas pernas–– fracas demais até
para me sustentar.
Hmm...
que cheiro delicioso, não acha?
“Não,
horrível. Agora vê se me ajuda a sair daqui.”
Se
já não bastasse a “maravilhosa” situação em que estou, agora tenho que aturar a
Samyaza falando comigo. Eu não devia ter caído no charme de uma mulher nua tão
facilmente...
Mas você não tem
culpa, eu sou irresistível mesmo, fufufu! Fora que a sua visão é apenas um
pequeno preço comparado com o que eu lhe posso oferecer, garoto.
“Se
eu soubesse que ficaria cego, nunca teria feito acordo nenhum com você.”
De
repente, começo a ouvir passos, em seguida, uma voz.
“Ora,
ora. Vejam pessoal, encontramos um maluco falando sozinho no meio do United
Center. Não era bem o que eu esperava, sabe?”
Uma
voz extremamente irritante. Parece aqueles caras mimadinhos que cospem na nossa
cara enquanto escondidos atrás de um exército, mas sozinho...
…basta
apenas um sopro, e todos eles caem, como a casa de palha do primeiro porquinho.
“Apenas
saia do meu caminho, não tenho intenção de lutar.”
Até
porque não tenho condições de lutar.
Como assim não tem
condições de lutar? – Perguntou
Samyaza – Você esqueceu do que há dentro
de você agora?
“Calma,
calma, desculpa...”
A
voz irritante retrucou.
“Ainda
bem que se desculpou, não que isso vá adiantar de alguma coisa.”
Acho
que aconteceu um mal entendido aqui...
“Eu
não estou me desculpando com você, estou me desculpando com outra pessoa...
quero dizer, não é bem uma pessoa, é tipo... é...”
A cara que eles
estão fazendo é muito engraçada! Sério! Hahahaha!! Eu não ria assim há anos.
O
cara que antes falava com um tom irônico, proferia palavras raivosas agora.
“Me
poupe da sua loucura! Você mal consegue ficar em pé, deve estar delirando.
Vamos lá, Robbs, me dê essa faca que eu mesmo acabo com esse aí.”
“Sim,
senhor.”
Ouço
um som. Metal com metal. Ele está afiando a faca, mas mesmo assim, continua
falando.
“Sabe,
ceguinho, eu geralmente não matava pessoas assim...”
Ah
é, bom saber, seu merda.
“...mas
aí aconteceu essas merdas de anjos pra lá, demônios pra cá, e tudo mudou
rapidinho, sabe? Um fato curioso: sabia que anjos não gostam do dinheiro
humano? Estranho, não é?”
Você
quer destruí-lo, não quer? Arrancar suas entranhas e fazê-lo engoli-las, não é?
Apenas diga que sim, vamos...
Sim...
e-eu quero! Ah, eu quero! Esfregar essa arrogância na cara dele. Acabar com
toda essa banca de riquinho.
Consigo
ouvir sons de passos, é ele se aproximando.
“Olha,
eu posso acabar com isso de duas maneiras. A primeira, é uma morte lenta e
dolorosa, com direito à tortura e tudo mais, sabe como é né.” – Soltou uma
gargalhada. – “Já a segunda, é de forma rápida, e você só precisa me dizer uma
coisa...”
O
som dos passos havia cessado, mas outro som chegava em meus ouvidos agora: a
respiração do maldito babaca. Seu rosto estava ao lado do meu, pronto para
sussurrar alguma coisa.
Sypher, faça tudo o
que eu disser à partir de agora. Esse maldito irá colocar a faca no seu
pescoço...
“Se
você me disser onde a Júlia está, quem sabe eu considero a segunda opção?” – Disse
o riquinho, encostando a faca no meu pescoço.
Samyaza
começou a me dar instruções, as quais eu passei a seguir prontamente, sem nem
ao menos pensar.
Agora
você irá bater com a barra de ferro na canela dele, bem no meio, onde está
machucado. Assim que você sentir o impacto, a faca vai se mover, ou seja,
desvie dela assim que mover a barra. Você só terá essa oportunidade para
arrancar a faca da mão dele, se falhar, você estará acabado.
Nossa, obrigado por não colocar pressão nenhuma!
Não
há de quê.
Bom
saber que posso te responder pelo próprio pensamento...
Eu sou os seus
pensamentos agora, Sypher.
É,
é, tanto faz.
“Não
vai me responder, ceguinho? Então acho que vo-“
Rapidamente,
bati com a barra de ferro na canela do riquinho arrogante. No mesmo instante, a
faca pareceu pressionar meu pescoço. Recuei enquanto batia com a barra para
cima, acertando em cheio a mão que segurava a faca. A lamina que antes
pressionava meu pescoço, estava agora voando no ar. Posicionei minha mão aberta
para cima, agarrei a faca, avancei, e pressionei-a contra o riquinho.
Vários
passos acelerados podiam ser ouvidos, eram os capangas dele. Virei o rosto para
eles, e os passos cessaram. Gemidos e sons de dilaceramento eram o que meus
ouvidos escutavam agora.
Suor
começou a escorrer pela faca que estava encostada no pescoço do babaca
arrogante. Ele então entrou em desespero ao ver seus guardas serem aniquilados
daquela maneira.
“Por
favor, eu imploro! Me deixe ir, eu nunca mais aparecerei aqui! Nunca! Eu nem ao
menos sei quem é essa tal de Júlia! Vê, sou só um carinha passando por aqui e-”
“Foda-se.”
– a faca
penetrou profundamente a garganta do riquinho, e em seguida, moveu-se
gentilmente para o lado, cortando o pescoço de ponta a ponta. Sangue jorrava em
meu rosto enquanto eu permanecia parado diante à cena.
Meu
trabalho aqui está feito. Espero que tenha gostado dessa pequena demonstração,
pequeno Sypher.
Foi
bem interessante, Samyaza.
Apesar
da escuridão, eu conseguia sentir tudo ao meu redor. Era como se eu pudesse ver
através dos meus outros sentidos. Audição, olfato, tato. Todos eles
compartilhando informações e criando uma visão diferente– ou seria a visão real
das coisas?
“C-Caralho!!
Olha isso, Júlia! Até o Dot tá morto! Foi você, cara?!”
“Não.”
“Então,
quem foi?” Perguntou Júlia, enquanto aproximava-se.
“Quem
você quer que seja.” Disse enquanto recolhia a barra de ferro do chão.
Você devia ter
falado que foi Samyaza, a Rebelde Infame! Líder dos Primeiros Anjos! Uma das
mães dos Primeiros Nefilims! Assim ninguém saberá que eu voltei! Ei! Você está
me ouvindo?
E
ela continuou berrando na minha cabeça por mais algumas horas...
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