Hoje é dia 12...
Já fazem cerca de dez dias desde
a minha contratação na UnderWork. Estive extremamente ocupado durante esses
dias.
Eles praticamente abusaram de
todo o meu conhecimento em programação. Acho que nunca precisei utilizar tanto
meu cérebro. E ainda nem preciso lembrar de que a Rydia ainda está lá em casa.
Ela está ficando cada dia mais folgada, parece que ela já mora lá faz anos,
acho que vai chegar um momento em que não aguentarei mais...
Bom, nesse momento eu estou em
uma reunião. Se quer saber, eu nunca me imaginei sentado em uma mesa com outros
velhos ricos falando sobre finanças... Na verdade, eu não estou falando de finanças.
Eu estou aqui para apresentar meu
novo software para eles.
O lugar é um pouco pequeno,
apenas uma mesa bem comprida com várias cadeiras, um projetor preso ao teto por
meio de um suporte e um amontoado de papéis em cima da mesa.
Enquanto eu ouvia o Sr. White
falando sobre a atual situação da empresa, eu pude observar os outros
empresários ali presentes. A grande maioria deles estavam pouco se importando
com o que o Sr. White falava, o que eles queriam era uma solução rápida para
voltarem a ganhar dinheiro e, não saber o quanto estão perdendo.
[VIBRAÇÃO]
Meu celular resolveu tocar logo
agora? Quem será que está ligando? Me levantei
e saí rapidamente da sala enquanto o Sr. White estava olhando para o
lado oposto.
“Alô?”
“Sy? É você?”
Que novidade! Era a Rydia que
estava ligando.
“O que você quer, Rydia?”
“É que tem um homem estranho aqui
na sua casa afirmando que você o conhece.”
Homem estranho...? Será que
é...?!
“Rydia, peça a ele que me
encontre no shopping. Peça-o para ser o mais discreto possível.”
“Ei Sy, no que você está se
metendo? Ele parece muito suspeito e-! Ué? Cadê ele?!”
“Tenho que desligar Rydia, vejo
você mais tarde”
[DESLIGA]
Então quer dizer que ele já veio?
Foi bem rápido. De qualquer forma, preciso voltar.
Voltei para a sala de reuniões e
aguardei a minha vez. Tive que esperar por uns vinte minutos antes de começar
minha apresentação.
Minha apresentação consistia em
apenas fazer uma breve introdução do software,
depois lhes mostrava o que podia fazer e onde aplicá-lo. Após cerca de 45
minutos de apresentação, a reunião estava prestes a terminar.
“Muito bom Sr. Tyrus. Iremos
investir nesse sue projeto, garanto que conseguiremos um bom retorno.”
“Muito obrigado, estarei
esperando ansiosamente.”
Saí da sala de reuniões e voltei
ao meu escritório para pegar minhas coisas. Chegando lá encontro Rose.
“Olá, Rose.”
Cumprimentei-a enquanto entrava
no escritório.
“Olá, Sr. Sypher. Como foi a
reunião?”
“Sinceramente? Um saco.”
Apenas disse a ela a verdade. Não
aguentava ficar mais sentado sem fazer nada por lá.
“O senhor sabe que não deve falar
assim, não é? Você está no seu trabalho, e tenho certeza que você também sabe
que as paredes têm ouvidos por aqui.”
“Sim, eu sei. Mas apenas respondi
o que você havia me perguntado.”
Dei um sorriso enquanto dizia
isso a ela. Pena que por dentro, eu não estava sorrindo nem um pouco. Eu ainda
estou tentando descobrir o caso da ruiva. Todos os dias depois do trabalho eu
seguia essa ruiva misteriosa. E todos os dias ela entrava em um condomínio onde
provavelmente é a sua casa.
Preciso de alguma forma descobrir
tudo sobre ela. Só assim conseguirei desvendar o segredo dessa ruiva.
A hora do almoço já estava
chegando então decidi sair um pouco mais cedo já que não tinha nada para fazer
por enquanto. Peguei minhas chaves, minha carteira e meu paletó e me despedi da
Rose enquanto saía do escritório.
“Até mais, Rose. Vejo você depois
do almoço.”
“Não irá me fazer companhia
hoje?”
Rose me deu um olhar frustrado.
Obviamente ela faria isso afinal, estou almoçando com ela todos os dias.
Infelizmente, hoje não poderei almoçar junto a ela.
“Me desculpe, Rose. Tenho
assuntos pessoais a tratar agora no almoço.”
Com apenas esse pedido de
desculpas virei-me em direção à porta e segui meu rumo. Meu destino? O
shopping.
Como de costume, peguei o
elevador e desci até o térreo. Quando cheguei no Hall de entrada, cumprimentei
a recepcionista e me dirigi a saída.
Hoje as ruas estão bem
movimentadas, como é de costume. Chamei um táxi e pedi para que me levasse ao The Atrium Mall, um shopping que é perto
da empresa onde trabalho. Levei cerca de dez minutos para chegar lá.
Já faz um bom tempo que não venho
neste shopping. Parece que houve um aumento considerável de pessoas no shopping
desde a última vez que visitei-o. É um
lugar bem bonito, com várias lojas e serviços.
A cada passo dado dentro desse lugar, uma novidade aparece. Consequentemente,
te deixando com vontade de comprar.
Fui caminhando até a praça de
alimentação enquanto olhava as lojas. Em cada loja em que eu passava, eu quase
comprava algo. Depois de passar por quase oito lojas diferentes cheguei na
praça de alimentação, que para variar, estava lotada.
Olhei em volta à procura da
pessoa que deveria estar aqui. De repente vejo uma mão ao fundo, levantada, aparentemente me chamando.
Obviamente fui até lá, já que consegui reconhecer a pessoa.
“Olá, Sr. Tyrus. Meu nome é Jonas
Santos, sou o detetive que você contratou.”
Perfeito, era a pessoa que eu
estava esperando.
“Olá, Detetive Santos. Acredito
que já tenha alguma informação?”
“Sim, tenho todas as informações
que o senhor pediu. Estão todas neste envelope. Abra-o sozinho, você não quer
que ninguém saiba disso, certo?”
O cara tinha uma atmosfera bem
séria. Em nenhum momento ele sorriu. Seus olhos negros estavam praticamente
fechados, metade do seu rosto estava coberto por um cachecol, acredito que não
queira ser identificado.
“Então aqui está seu pagamento,
novecentos dólares. Espero trabalhar novamente com você em um futuro próximo.”
O detetive então pega o dinheiro
que eu havia posto sobre a mesa. Logo após ter pego seu pagamento, se levantou
e foi embora. Particularmente fiquei surpreso com o tamanho dele... era bem forte para falar a verdade. Parecia aqueles presidiários de filme.
De qualquer forma, consegui os
dados necessários para desvendar o segredo da ruiva. Não vejo a hora de abrir
esse envelope.
Parte 2:
Já era noite.
Estava caminhando de volta para
casa com a Rose.
“Sypher, você descobriu algo
sobre o caso da ruiva na qual ficou tão obsecado?”
Simplesmente do nada, Rose faz
uma pergunta dessas.
“Ainda não... ainda não...”
“Você parece bem desanimado. Não
era você que ia descobrir a verdade e tudo mais?”
“Sim, mas... Não é tão fácil
quanto você pensa. As coisas são bem complicadas. Na verdade, essa procura não
está me levando a lugar nenhum.”
Por enquanto não está me levando
a lugar nenhum, hoje finalmente saberei a verdade! Eu finalmente tenho a
resposta!
“Ei, ei, que cara é essa,
Sypher?”
Droga! Acabei fazendo uma cara de
maníaco enquanto pensava no envelope.
“Nada, estou apenas pensando em
algumas coisas. Não se importe com minha cara de maníaco...”
Fiquei um pouco constrangido
enquanto dizia estas palavras. Entretanto, Rose apenas riu do que eu havia dito
e respondeu.
“Não tem problema, pelo menos me
faz rir! Ufufufu!”
Ela parecia estar se divertindo
pra caramba com minha cara de maníaco de um segundo atrás. Não me importo se eu
pareço ridículo, pelo menos estou deixando ela feliz.
“Bom, Rose, é aqui que nos
despedimos, certo?”
“Exato. Muito obrigado por mais
um dia, Sypher. Sem você meu dia teria sido uma chatice.”
E como sempre, Rose deu aquele
sorriso que só ela pode dar. Aquele sorriso no qual penso durante a noite, o
sorriso que é... indescrítivel, que não posso transpor em palavras.
“Até mais, Rose. Vejo você amanhã
no trabalho.”
De repente, Rose vêm em minha
direção e-
[BEIJO]
“Boa noite, Sypher.”
Ela então abriu o portão e entrou
em sua casa.
Eu fiquei surpreso pelo pequeno
beijo que recebi dela afinal, ela simplesmente veio e me beijou. Por cerca de
cinco minutos eu não consegui pensar em mais nenhuma outra coisa a não ser
nesse beijo inusitado.
Fui andando de volta para casa
enquanto pensava no que aconteceu hoje. Lá vou eu novamente com meu resumo do
dia.
Tive um dia normal, como qualquer
outro dia desse mês. A única coisa excepcional que aconteceu, foi o beijo da
Rose, nada mais.
De qualquer forma, não posso
ficar pensando nisso. Tenho que voltar para casa e analisar o envelope.
E sinceramente, tenho um mal
pressentimento.
Parte 3:
“Mãe, cheguei!”
“Oi Sypher. Está com fome?”
“Não, mãe. Desculpa, mas estou
indo para o meu quarto.”
Assim que cheguei em casa, dei um
breve “oi” para minha mãe e subi as escadas em direção ao meu quarto. Quando
cheguei na frente do meu quarto, pude ouvir alguém me chamando.
“Ei, Sypher.”
“Ah, olá Rydia.”
Quem havia me chamado era a
Rydia. Hoje ela estava com um vestido longo e preto, parecia que ela tinha
acabado de sair de um funeral. Obviamente eu não iria perguntar algo assim
então agi normalmente.
“Como vai, Rydia?”
“Bem.”
Uau! Essa resposta foi bem...
fria. Fiquei completamente sem jeito.
“Hãã... que bom então...”
Tanta coisa melhor pra dizer!
Cérebro, cê tá de sacanagem comigo?!
“Sypher... o que você anda
fazendo todos os dias depois do trabalho? Eu vi você semana passada seguindo
uma mulher.”
MERDA!!! Ela me viu! O que eu
digo? O que eu digo? AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHH!!!!!!!!!!
“B-Bom... eu não tava seguindo
ninguém. Você têm certeza que me viu?”
Respondi a ela do jeito mais
convincente que pude.
“Sim, você estava seguindo uma
mulher ruiva. Eu tenho certeza que você estava a seguindo pois quando eu te vi,
resolvi te seguir.”
Após ela afirmar que havia me
visto, simplesmente coloquei minha mão na minha cabeça e dei um suspiro.
“Então quer dizer que você me
seguiu... nunca imaginei que isso aconteceria.”
Eu então comecei a abrir a porta
do quarto, e quando estava entrando Rydia segurou meu braço.
“Não vai me contar o que está
acontecendo?”
“Não.”
Retirei a mão dela do meu braço e
fechei a porta na cara dela. Foi uma medida necessária afinal, se eu não
fizesse isso ela não desistiria nunca.
Finalmente estava sozinho no meu
quarto. Esperei por esse momento o dia inteiro.
Sentei na minha cama e peguei o
envelope. Com as mãos trêmulas e completamente nervoso, resolvo abri-lo.
[ABRIU]
[...]
[...]
“Bom... não era bem o que eu
esperava...”
É, foi isso que eu disse mesmo.
Tudo o que tá no envelope não tem nada a ver com o que eu imaginei! Vamos aos
fatos.
O nome dela é Anne Winston.
Nasceu dia três de novembro de mil novecentos e oitenta e nove. Mora no
apartamento duzentos e oito, no edifício Master
Suit.
No envelope também tem a
descrição dela no quesito aparência. Temos cor dos olhos, cabelos, tamanho do
busto, quadril, etc. Caramba! Essa ficha é bem detalhada.
Enquanto eu folheava os papéis,
acabo me deparando com uma ficha onde mostra uma lista de várias doenças
diferentes. A maioria delas, doenças que mexem com o psicológico como
esquizofrenia.
Após olhar aquela ficha de
doenças, todo o mistério foi desvendado na minha cabeça. O que ela disse na
verdade é mentira. Foi inventado por ela pois ela tem problemas psicológicos. E
ela não lembrava que falou pelo mesmo motivo. Pelo menos é isso que eu acho.
O mais engraçado é que não tem
nenhum dado sobre ela antes do ano de dois mil e nove.
Bom, acredito que esse caso
esteja resolvido.
Dei um grande suspiro, estalei os
dedos, bocejei e liberei toda a aflição da minha mente. Eu não acredito que era
só isso.
[TOC TOC]
“Quem é?”
“Sou eu, Sypher abra a porta
agora, eu quero conversar.”
Peguei todos os papéis do
envelope e joguei no triturador de papel, e então fui em direção a porta para
abri-la para a Rydia.
Apesar de parecer tranquila, pude
perceber a preocupação dela enquanto pedia a ela que sentasse.
“Então... o que você quer
conversar?”
Fui direto ao ponto, não quero
rodeios.
“Quero saber do por quê você
estava seguindo aquela ruiva.
Eu tinha que inventar algo que
fizesse ela acreditar de uma vez só.
“Eu sou apaixonado por ela!”
Ela então arregalou os olhos e
depois começou a rir como se não houvesse amanhã.
“Hahahahahahahaha!!!!!”
“Ei, ei! Não precisa ficar rindo,
beleza?
Com essas palavras eu a fiz ficar
em silêncio. Apesar de que ela deve estar rindo litros por dentro.
“Tudo bem, tudo bem, desculpa Sy.
É porque isso é muito engraçado, sabe?”
“Não vejo nenhuma graça.”
“Isso é porque a gozação é com
você! Hahahaha!”
Ela estava rindo
frenéticamente... eu acho que ela realmente acreditou. Rydia havia até começado
a chorar de tanto rir! Como assim? Se ela está rindo por causa disso, imagina o
que ela faria se eu contasse a ela sobre Rose?!
Logo que pensei nisso comecei a
imaginar Rydia rindo tanto ao ponto em que ela explode... uma cena um tanto
quanto cartunesca, porém seria muito legal se ela simplesmente explodisse,
ufufufu!
Enquanto eu imaginava mais de um
milhão de jeitos em que o final é a explosão da Rydia, a mesma se levanta e vai
em direção a janela.
“Ei, Rydia, o que houve?”
“Eu vi luzes da sirene da
polícia. Estava indo em direção ao fim da rua.”
Hmm... será que aconteceu alguma
coisa? Esse bairro é considerado um dos mais seguros. É meio difícil de ter
acontecido algum assassinato ou algo do tipo.
“Sy, vamos lá ver o que
aconteceu?”
“Acho melhor não. Você sabe muito
bem que pode ser perigoso.”
“Relaxa! A gente não vai chegar
muito perto.”
Rydia disse isso enquanto exalava
um ar de despreocupação. Como não quis discutir muito com ela apenas aceitei a
proposta de ir ver o que havia acontecido no fim da rua.
“Então vamos logo, Rydia. Já são
21:00 horas, daqui a pouco tenho que ir dormir, pois tenho que trabalhar
amanhã, lembra?”
“Tá, tá, eu já sei de tudo
isso...”
Com uma expressão de tédio e
descontentação ela saiu da frente da janela e correu em direção à porta.
“Vamos logo Sy. Não quero chegar
lá e já ter acabado tudo.”
Após dizer isso, Rydia saiu do
meu quarto. Então me levantei e peguei minhas chaves e minha carteira.
Ao sair de casa, me deparei com
algumas pessoas que também estavam indo na mesma direção que o carro da
polícia. Uma mulher que estava indo até lá falou em voz alta.
“Parece que foi um assassinato!
Um menino matou sua mãe enquanto ela tomava banho.”
O quê?! Um assassinato?! Mas...
uau... isso foi algo bem surpreendente. É quase impossível de acontecer algo
assim, pelo menos aqui onde moro.
“Sy, vamos lá ver! Vamos, vamos.”
– Disse Rydia super empolgada.
“Sinceramente, não sei o porquê
de você estar tão excitada com isso. Parece que você gosta de pessoas
mortas...”
“Não é por eu estar com um
vestido de funeral que eu gosto de pessoas mortas. Eu só estou curiosa! Nada
mais.”
Vou fingir que acredito. Rydia
nem ao menos me esperou, saiu correndo em direção a cena do crime. Ainda estou
pensando no porquê de ela estar tão curiosa quanto ao assassinato. Não consigo
encontrar conexão nenhuma entre a curiosidade dela e o assassinato.
Enquanto caminhava até lá, várias
viaturas da polícia passavam por mim. Ah, também passou uma ambulância. Eu já
nem conseguia ver aonde a Rydia estava... só sei que já devia ter chegado no
local só pelo fato de ela ter corrido tão rápido que só faltou a calçada pegar
fogo devido a alta velocidade do atrito com o chão...
Chegando no local do crime, quero
dizer, perto do local do crime, afinal não tem como a gente entrar lá, pudemos
ver o garoto que matou sua mãe sendo colocado dentro de uma viatura policial. E
logo em seguida, uma maca coberta onde provavelmente é o corpo da mãe que está
ali.
O garoto tinha cerca de 17 anos,
cabelos negros e compridos. Totalmente lisos, nem parecia de verdade... o seu
olhar era morto... era como se ele tivesse morrido. Mas mesmo indo em direção à
cadeia e provavelmente à pena de morte,
ele estava sorrindo, porém era apenas um sorriso falso, um sorriso que dizia:
não me arrependo do que fiz, um sorriso de contentação, um sorriso de
felicidade. Sim, tudo isso estava naquele sozinho do garoto.
Bom, essa é uma cena meio que...
triste? Eu não sei. Só sei que Rydia estava com os olhos brilhando... um fato
meio estranho. Porém logo esse olhar brilhante sumiu e deu lugar a um rosto
pensativo. Ela então vira para mim e diz.
“Isso me fez
lembrar de uma parte da Bíblia que dizia: ‘filhos se rebelarão contra seus pais e os matarão.’ Se não me engano é
o versículo 21 de Mateus 10... esse era um dos sinais do fim dos tempos. Sy,
você acredita em coisas assim?”
“Não,
em hipótese alguma. Não tem nenhum sentido. Se realmente existisse algum Deus,
você realmente acha que ele iria destruir a Terra? Faça-me um favor Rydia, não
comente algo desse tipo comigo, pois eu simplesmente detesto esse tipo de
assunto. Aliás, você deveria parar de pensar em algo assim, afinal isso não irá
levar você a lugar nenhum.”
Fui
curto e grosso. A reação de Rydia não foi uma das melhores já que ela virou o
rosto para o lado oposto e cruzou os braços como se tivesse falando “Ah, vai se
ferrar!” ou algo parecido.
“Ei,
Rydia, não precisa ficar brava comigo, beleza? Eu apenas quis compartilhar
minha opinião com você, nada mais...”
“Você
sempre se acha o dono da razão, Sy... Esse é um dos seus defeitos.”
Ela
disse isso enquanto mantinha o olhar para longe de mim. Ela realmente ficou
revoltada com o que eu disse. Para tentar animar um pouco ela, ou melhor, me
redimir pelo o que eu disse? Já nem sei mais o que estou fazendo... resolvi chamá-la
para comer algo em uma lanchonete aqui perto.
“Rydia,
vamos fazer um lanche? Sabe, estou morrendo de fome... vamos lá eu pago.”
Ela
continuou olhando para o mesmo lugar mesmo após a minha oferta.
“Ei,
Rydia! Você tá me ouv-“
“Sy,
olha.”
Com
seu dedo indicador, Rydia aponta para o garoto que matou sua mãe. Eu olhei para
a direção que ela indicou porém não notei nada de mais e então perguntei.
“O
que houve?”
“Como
assim, “o que houve?” você não está vendo, o garoto está recitando um cântico
satânico.”
“O Oriens,
splendor lucis aeternae, et sol justitiae:
veni, et illumina sedentes in tenebris, et umbra
mortis.”
Quê?!
Como ela sabe um negócio desse? E outra, por que ele estaria recitando algo
assim? Será que ele matou a própria mãe devido a essa crença dele? Tantas
perguntas, porém nenhuma resposta.
“Como
você sabe de algo assim?” – Perguntei à ela.
Logo
após a pergunta Rydia parecia ter ficado perturbada com a mesma.
“Pesquisas
na internet, basicamente... o cântico que ele está recitando agora é o chamado
de: Oriens Splendor. É um cântico até que bastante conhecido,
acredito eu. ”
“Nunca ouvi falar...”
“Óbviamente, afinal você é desinformado.”
“Pelo contrário, eu não me informo sobre
coisas sem sentido ou fundamento.”
Foi exatamente o que eu disse, enquanto ela
se ocupa procurando essas coisas inúteis, eu prefiro pesquisar coisas mais
interessantes como por exemplo, a situação do meu país.
Esse dia está sendo cada vez mais maluco.
Primeiro que beijei a Rose. Segundo, descobri a verdade sobre a ruiva. E agora
isso, um garoto que matou a própria mãe possivelmente por estar envolvido com
satanismo... É cada coisa que vejo... sinceramente, eu vou morrer e não verei
de tudo.
Enquanto eu fazia uma análise do dia, Rydia
volta seu olhar para mim e diz.
“Você não entende, Sy... o garoto matou a
mãe dele porque ele estava possuído, não há dúvidas!”
Logo após a declaração de Rydia, não pude
fazer nada a não ser, rir. Isso mesmo, rir muito.
“HAHAHAHAHAHAHAHA!!!!”
“O que você está rindo?! Isso é sério! Aff,
por que eu fui falar isso logo para você?!”
Pela cara dela, ela está com um ódio extremo
por mim. Me aproveitei da situação e acabei zoando mais ainda ela.
“Oooh, cuidado Rydia, Baphomet pode vir até
você! Hahahaha!”
[TAPA]
[...]
“Sy... você é um idiota. Sim, um idiota ao
extremo.”
Com
essas palavras, Rydia saiu correndo do local, com lágrimas nos olhos.
Todas
as pessoas que estavam no local ficaram olhando em minha direção. Provavelmente
achando que eu maltratei a Rydia, ou algo do tipo... mas não interessa o que os
outros pensam, preciso ir atrá da Rydia antes que ela faça algo de errado.
Quando
estava saindo do local, ouço uma voz me chamando.
“Ei,
Sypher.”
Quando
olho para trás, vejo que quem estava me chamando era o garoto assassino.
“Como
você sabe meu nome? Vá me responda!”
Com
um sorriso extremamente falso, e uma voz de deboche, ele disse.
“...
apenas chutei.”
O
policial que estava do lado dele chamou a atenção dizendo.
“Cale
a boca, você não pode falar nada, maldito.”
“Ufufufu...
quem vai me impedir de falar? Você, sr. policial?”
Ele
falava com o policial de um jeito que parecia que ele estava zoando. Enquanto
ele dizia essas palavras, ele foi se levantando.
“Sypher...
acredito que alguém já falou para você que o dia está chegando... certo?”
O
que? Esse papo de novo?! Aposto que esse cara é um retardado também.
“...”
“Parece
que sim... e você não acredita, não é? Ufufufu...”
Dois
agentes da polícia agarraram ele e o puseram dentro da viatura. Mesmo lá
dentro, ele continuou me olhando com aquele sorriso falso.
Sinceramente,
fiquei perturbado com o que ele disse. Esse negócio de o dia está chegando já
está torrando minha paciência. Já não basta eu ter que aguentar o papo furado
de fim do mundo todo dia? Deixarei isso de lado por enquanto, afinal tenho que
encontrar Rydia.
A
primeira coisa que fiz foi pegar meu celular e ligar para Rydia.
[CHAMANDO]
[...]
“Oi,
você ligou para a Rydia, deixa uma mensagem depois do bip.”
É
óbvio que ela não atenderia. Principalmente se for eu que está ligando. Droga
Rydia, por que você resolveu sair correndo devido a uma brincadeira tão boba?
Hmph.
Resolvi
então começar a perguntar para o pessoal ali da rua.
“Com
licensa, senhor. Você viu uma garota que aparenta ter minha idade. Ela tem
cabelos castanhos bem lisos e curtos.”
“Eu
vi ela indo para aquele beco ali.”
“Muito
obrigado, senhor.”
O
que a Rydia foi fazer em um beco? Ela ficou maluca? Eu realmente espero que não
esteja acontecendo o pior, já que hoje o mundo é cheio de psicopatas,
estupradores, coisas do gênero, sabe?
Acelerei
meu passo para chegar mais rápido no beco. À medida em que eu acelerava o
passo, minha visão começava a embassar cada vez mais.
Hã?
Eu tô... ficando meio tonto... isso não é normal...
De
repente tudo ficou escuro. Geralmente quando desmaiamos não sabemos o que
aconteceu, mas comigo foi diferente.
Uma
voz suave cantava uma música. Uma música que eu nunca havia ouvido falar, nem
ao menos sei que estilo é. Não parece com nada que eu tenha ouvido.
“...
In the night
The world will die
Shadows will devour our hearts
The love will succumb
Everything that you know
Will disappear
In the night....”
A
letra que compunha a música era enigmática o suficiente para me fazer ficar
angustiado. Enquanto eu ouvia a música, pude perceber que o lugar em que eu
estava havia começado a tomar forma.
Uma
casa.
Não,
apenas uma porta.
Era
uma casa, composta apenas por uma porta. Parecia uma casa da época de pós
guerra.
Mas
era apenas isso... uma porta. Nada mais. Quanto mais tempo eu passava nesse
lugar, mais difícil era de respirar. O lugar era simples mas continha uma
atmosfera pesada, tão pesada que se eu acreditasse em espíritos ou coisa do
tipo, estaria falando que aqui residiam espíritos malignos.
A
maior curiosidade é que... nada aqui faz sentido algum. Um cântico apocalíptico,
com uma casa onde só sobrou uma porta. Essa equação não resulta em nada. Por
mais que eu quisesse, eu não conseguia sair.
“Sypher.”
Uma
voz masculina me chamou.
“Quem
está aí? Apareça!”
“Ufufufufu!
Você acha mesmo que eu estou falando das sombras para aparecer pra você?”
Bom,
ele tem razão quanto a isso.
“O
que você quer?
“Hahaha!
Nada, só queria ver o quão intrigado você ficaria em ver essas coisas. Também
quero ver a sua expressão daqui a três dias. Vai ser impagável.”
“Do
que você está falando? O que vai acontecer em três dias?!”
“Novamente,
Sypher. Você acha que eu faria um suspense desse nível, para simplesmente
contar a você quando me perguntasse? Acho que não, certo?”
O
maldito fica com essa brincadeirinha! Eu estou falando sério aqui, maldição!
“Vejo
que ficou irritado. Muito bem. Acho que isso é o suficiente. Vejo você em um
futuro próximo, Sypher.”
Ei,
ei! Vai simplesmente vazar assim?! Sem mais nem menos? Quero satisfações!
“Ei,
espera aí! Você nem ao menos disse seu nome!”
“Ufufu.
Tenho vários nomes. Vários nomes, porém todos dados por humanos. Na verdade,
não tenho um nome.”
Ah,
muito obrigado por essa resposta maravilhosa!
“Eu
sei o que você está pensando. Está pensando que eu não disse absolutamente
nada, certo? Então vou te dar um conselho, Sypher. Apenas espere a morte
chegar.”
E
com essas últimas palavras, a tal voz desapareceu. Consequentemente o mundo a
minha volta se desfez, me deixando na completa escuridão outra vez. E nessa
escuridão minha mente adormeceu.
Parte 4:
Castanhos...
cabelos castanhos...
Essa
foi a primeira coisa que pude notar ao abrir os olhos.
“Sypher!
Sypher! Acorda, vamos!!”
Os
olhos cheios de lágrimas da garota que me derrotou durante toda minha vida
escolar. Suas lágrimas caíam em meu rosto enquanto eu abria os olhos.
“Rydia...
você é muito barulhenta...”
“Graças
a Deus, você está bem.”
Ela
parecia estar bem aliviada após eu ter dado algum sinal de vida. Mas o que foi
esse “sonho”? Mais outro mistério para me ocupar... merda! Eu não sou um
maldito detetive, caralho!
“O
que aconteceu, Sypher? Quando eu decidi voltar encontrei você caído aqui.”
“Eu
queria poder responder isso... eu sinceramente gostaria.”
“...então
você não tem ideia...”
Exatamente,
não faço ideia. Por que? Do nada eu desmaiei. Não tem sentido. Eu nem cheguei a
correr.
“Rydia,
vamos voltar para casa. Preciso descansar.”
“Claro,
sorte sua que amanhã é sábado. Se você precisasse trabalhar amanhã... você
provavelmente desmaiaria de novo no trabalho, esses tipos de coisas... fufufu.”
É
impressão minha ou ela está zoando com a minha cara? Sim, ela está me zoando
com certeza. Se vingando após o acontecimento anterior... espertinha.
De
qualquer forma, eu e Rydia voltamos para casa, e fomos direto para a cama.
[TRIM
TRIM TRIM]
“Ummm...
maldito despertador.”
Já
se passaram três dias, me pergunto o que irá acontecer hoje. Aquela voz...
disse que ia acontecer algo hoje.
Ha!
Eu não sei o porque de eu estar me preocupando com algo tão tolo. Vou apenas me
vestir e descer para tomar um café. Sim, farei apenas isso.
Coloquei
minhas roupas normais e desci até a cozinha para tomar um café. Minha mãe e a
Rydia já estavam lá.
“Bom
dia...”
“Bom
dia, Sypher.”
“Oi,
Sy!”
Como
sempre, a Rydia estava cheia de energia e minha mãe estava fazendo suas
deliciosas panquecas. Eu realmente não consigo me enjoar delas. Seu sabor é
algo incomparável e não existe nada igual.
A
mesa do café estava bem cheia hoje, alimentos variados e bem gostosos. Peguei
um pão e comecei a comê-lo. Logo pude notar que Rydia começou a olhar para a
janela. Sua expressão era de... medo?
Como
fiquei curioso decidi olhar para a direção em que ela estava olhando.
[...]
Não
havia nada lá.
“Ei,
Rydia. Que cara é essa? Parece que viu um fantasma.”
Ela
então olha em minha direção com os olhos cheios d’agua, e diz.
“...
eu vi... Sy... eu vi a minha mãe!”
De
primeiro momento, não entendi. Mas depois eu lembrei que... a mãe de Rydia
morreu quando ela ainda tinha sete anos.
“Mas
ela... você sabe... morreu. É tipo, impossível você ver sua mãe.”
Sim,
é impossível. A Rydia tá viajando legal.
“Eu
tenho certeza que eu a vi. Não há dúvidas.”
Minha
mãe então entra na conversa e diz.
“Rydia,
você pode ter certeza que sua mãe está em um lugar feliz hoje, afinal Deus é
bondoso. Está tudo bem, você não viu nada.”
Após
as palavras da minha mãe, Rydia simplesmente sorriu e se acalmou. Foi como se
minha mãe tivesse controlado ela por meio das palavras, como se ela tivesse
usado as palavras de um jeito tão convincente fazendo com que a Rydia
acreditasse em tudo. Mas ela só falou de Deus e o blábláblá de sempre. O que há
de errado com isso?!
Nada
faz sentido. Não ligo se a pessoa acredita naquela determinada religião. Mas
não acho justo que siga cegamente essa religião. Será que nunca se perguntaram
o por quê de tantas coisas que estão escritas na Bíblia? Ou nos outros livros
religiosos?
Continuei
comendo meu pão enquanto assistia à televisão. Estava passando o noticiário
matutino. De repente, uma mensagem urgente apareceu.
“Foi
passado neste momento que uma epidemia começou a se espalhar pelo continente
asiático. Ainda não se sabe a origem da doença e nem do que se trata. Mas é uma
doença extremamente perigosa que afeta o sistema nervoso e inibe grande partes
dos movimentos do corpo. Além disso, foi confirmado que após o ataque no
sistema nervoso, o vírus ativa uma certa propriedade própria que faz com que o
corpo perca todas as funções normais como o batimento cardíaco. Todos, por
favor fiquem dentro de suas casas, e totalmente trancados para não- UWA!”
O
próprio apresentador ficou paralisado em frente às cameras e podíamos ver
claramente que ele não conseguia mais respirar. Quando não conseguimos mais
respirar, temos como reflexo pôr nossa mão em volta do nosso pescoço, pois nos
asfixiamos. Mas... ele não podia fazer isso. Sim, seu sistema nervoso não
funcionava mais como deveria.
Eu
vi aquele homem morrer enquanto tomava meu café da manhã! Isso é muito bizarro.
Muito bizarro!
“Meu
Senhor! O pobre homem está morrendo! Deus, por favor, ajude-o!”
“Uwa-ugh...”
[DESLIGA]
“Eu
não aguento ver algo assim!”
Rydia
se levantou e saiu correndo em direção à rua.
-!
“Rydia,
espera! Se você sair, você vai ser contaminada!”
...
tarde demais. Ela já havia saído quando eu finalmente me dei conta.
“Mãe,
vou atrás da Rydia.”
“Sypher!
Não vá, você sabe dessa doença, deixe-a. Ela sabia dos riscos.”
[...]
“Como
assim?! Cadê todo seu amor ao próximo?! Toda aquela história de ajudar a
todos?! Agora quando uma pessoa precisa de ajuda, você simplesmente vira as
costas?!”
“Sypher...”
Pra
mim já chega, peguei meu casaco e corri atrás da Rydia.
Droga,
Rydia! Seu comportamento impulsivo já está enchendo meu saco. Qualquer coisa
você sai correndo. Porra! Onde cê tá?!
Quando
abri a porta, eu só pude ficar paralisado após presenciar aquele momento diante
dos meus olhos.
Acho
que segui o conselho da voz e...
...
esperei a morte chegar.
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